“Volta e meia, meia volta volver…” Depois de muita espera, a Globo finalmente confirmou a reprise do remake de “Ti-Ti-Ti”, substituindo “Laços de Família” no Vale a Pena Ver de Novo. Baseada na clássica comédia de Cassiano Gabus Mendes, exibida em 1985, a novela foi exibida entre 2010 e 2011, com Maria Adelaide Amaral modernizando o texto de seu mestre (com a colaboração de Vincent Villari), incluindo tramas e personagens de “Plumas & Paetês”, além de homenagear diversas outras novelas do autor, como “Elas por Elas, “Brega & Chique” e “Meu Bem, Meu Mal”. Foi uma novela jovem, afiada, irônica e bem costurada, não apenas por parte dos autores, mas também do diretor, Jorge Fernando, que no auge de seu brilhantismo, soube dosar muito bem os momentos de comédia e drama.
A novela tem personagens lembrados com muito carinho pelo público até hoje, sendo o principal deles Jaqueline Maldonado, considerada por muitos a melhor personagem da carreira de Cláudia Raia, que roubou a cena e acabou dividindo o protagonismo com Murilo Benício e Alexandre Borges. Sucesso de audiência, teve média de 30 pontos do Ibope e é constantemente lembrada pelo público, que cobrou muito por sua reprise, não apenas no Vale a Pena Ver de Novo, como também nas reprises emergenciais causadas pela pandemia de coronavírus. Apesar de estar disponível no Globoplay (finalmente atualizada em HD), a emissora passou dez anos se recusando a reprisá-la na TV aberta. Mas, por quê?
Muito se questiona nas redes sociais sobre os possíveis motivos. “Ti-Ti-Ti” usava e abusava das referências à TV, arte e música – eram inúmeras as referências à Xuxa, cujo nome e músicas são mencionadas diversas vezes. Ela chegou a participar da novela, fazendo uma ponta no aniversário de Jaqueline. Depois da saída de Xuxa da Globo, especula-se que esse fosse o motivo do veto à novela na faixa de reprises, o que, hoje, faz pouco sentido por dois motivos: as referências à Xuxa não eram essenciais à novela, poderiam ser facilmente cortadas e, hoje sem nenhum contrato com alguma emissora, Xuxa tem aparecido com frequência em diversos programas da Globo, o que tornaria esta motivação em um grande equívoco.
Especula-se também a representação digna e sensível de personagens LGBTQ+, presentes desde o começo da história, sendo o principal deles Julinho, vivido pelo ator André Arteche. A audiência tende a aceitar melhor personagens gays caricatos, utilizados como alívio cômico, ou que então que se descobrem no decorrer da trama, depois de “conquistar” a simpatia do público. A Globo não tem um bom histórico com personagens LGBTQ+ que já começam a novela assumidos e em um relacionamento – junta-se a isso a possibilidade de o público vespertino não enxergar com bons olhos um personagem ou um casal gay na faixa de reprises, que vez ou outra apresenta temas que deveriam causar muito mais indignação.
Outro motivo seria um possível mal-estar entre Silvio de Abreu, que foi diretor do departamento de teledramaturgia da Globo, com os autores Maria Adelaide e Vincent. Responsável pela escolha das reprises e das novelas inéditas que deveriam ser produzidas, Silvio encomendou a eles, em 2016, uma novela para o horário das 21h, “A Lei do Amor”, que se revelou um grande fracasso de crítica e público, e acarretou num embargo de diversos projetos que os autores apresentaram em seguida. A troca de Silvio por José Luiz Villamarim no cargo pode ter representado uma espécie de “perdão” aos autores, sinalizado pela reprise de sua obra.
Apesar de ter ido ao ar há uma década, “Ti-Ti-Ti” está muito longe de ser uma novela datada, muito pelo contrário. Foi moderna, antenada, ao mesmo tempo que mantinha a essência dos trabalhos de Cassiano Gabus Mendes, ainda que com muitos núcleos, personagens e entrechos novos. Falava com prioridade sobre o mundo da moda, sobre jornalismo, e inúmeros outros temas. A novela também previu o “boom” de blogueiras e influencers de moda na década seguinte. Foi uma novela divertida, leve e inteligente, com um elenco que reunia grandes estrelas da casa (incluindo a saudosa Nicette Bruno, que estará presente em duas reprises em 2021), ou seja: absolutamente merecedora de uma reapresentação, que finalmente irá acontecer!