Primeira semana da novela pode prejudicar o seu desenvolvimento ao longo dos capítulos caso os autores não pisem no freio e recalculem a rota da nova trama das seis
Na última segunda-feira (20), a Globo estreou sua nova novela das seis, “Amor Perfeito” em grande estilo, é preciso se reconhecer. A trama, que é inspirada livremente no livro “Marcelino Pão e Vinho”, do autor José María Sánchez Silva mostrou que tem potencial para ser mais uma daquelas deliciosas tramas de época típicas da faixa – isso porque reúne elementos como a cenografia e os figurinos que nos transportam para uma das épocas mais charmosas nesse sentido.
Em sua primeira cena, o pequeno Marcelino (Levi Assaf), protagonista da trama, já demonstrou um tamanho carisma em uma rápida sequência de apresentação do seu personagem juntamente com os freis que o criaram, mas outros pontos também chamaram a atenção do público.
Um deles certamente é a rapidez de que a trama escrita por Duca Rachid, Júlio Fischer e Elísio Lopes Jr. apresentou o enredo e os diversos acontecimentos importantes logo no primeiro capítulo, assim, sem haver uma certa construção da narrativa que vai nos acompanhar nos próximos meses.
Foi logo no primeiro capítulo que o casal protagonista Marê (Camila Queiroz) e Orlando (Diogo Almeida) se conhece sutilmente em São Paulo, enquanto ela estuda administração e ele atua como médico, e em seguida, o sentimento se torna avassalador e os dois vivem um conto de fadas na capital paulista. Vale lembrar que se trata de um casal interracial, e isso não era comum, assim como não era bem-visto pela sociedade de 1934, ainda mais se tratando da elite. Ok, é fato de que se trata de uma novela, e não necessariamente é preciso abusar da verossimilhança.
Se me permitirem, um adendo: embora seja corrida, as cenas do casal são muito bem produzidas, com locações em locais famosos como a Estação da Luz, Museu do Ipiranga e também o Edifício Martinelli, primeiro arranha-céu brasileiro. A fotografia mais carregada e com a imagem esfumaçada, incomodam.
Voltando à história, os dois fortemente apaixonados acabam tendo sua primeira vez e já planejam se casar, assim, bem rápido mesmo. Marê retorna à Águas de São jacinto e dá a notícia ao pai, Leonel (Paulo Gorgulho), que é contra e inflama ainda mais a paixão da filha. Um clássico folhetim e que sempre funciona.
O primeiro capítulo apresenta tantos desdobramentos que fica até difícil comentar todos, entretanto, a morte de Leonel é uma das melhores cenas até então. Após descobrir uma traição de Gilda (Mariana Ximenes), acaba assassinado por sua amada durante a festa no Grande Hotel Budapeste – aliás, é uma pena que um ator tão bom como Gorgulho tenha feito apenas pequenas participações especiais na Globo.
No mais, Amor Perfeito estreou com saldo positivo. Entretanto, é preciso tomar cuidado para que a história não seja gasta agora no início, e depois se sustente apenas por enrolação ou núcleos secundários, como aconteceu com a antecessora, “Mar do Sertão” (2022).
Mesmo sendo cedo para julgar, mas dá-se a entender que essa estratégia será feita e “recosturada” através de flashbacks de cenas inéditas que não foram exibidas na primeira fase, como acontece em “Travessia”, atual trama das nove. A princípio, é isso que dá para concluir da obra.
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