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  • Foto do escritorGeovanne Solamini

Expectativas X realidades em ‘Um Lugar Ao Sol’

Estreia de Lícia Manzo no horário nobre foi marcada por uma novela irregular com muitos altos e baixos

Imagem: Reprodução/Globo

E depois de muito tempo de espera, eis que a primeira novela das nove inédita veio aí. Após várias reprises que acabaram entediando o público, em novembro de 2021 a novela de Lícia Manzo estreou no horário nobre.


Agora que a novela terminou, é possível analisar de maneira mais ampla todas suas irregularidades que mesmo assim, não anulam as suas qualidades. Nesse texto pontuo o ônus e o bônus da novela. Confira!


Gêmeos de volta ao horário nobre

Imagem: Reprodução/Globo

Antes de destacar os seus dois lados, falamos sobre o retorno dos gêmeos em uma novela, elemento que já é bem conhecido entre o público e costuma funcionar muito bem, o que em partes, não rolou dessa vez.


Lícia Manzo ousou em não usar abusar integralmente do clichê com Cauã Reymond na pele de Christian e Renato, irmãos separados na infância e que tomam rumos completamente diferentes na vida. Onde está a diferença? Em justamente não ser uma simples troca de corpos, mas sim uma série de acontecimentos que levaram à essa troca de identidade.


Christian sonha e luta para conhecer o seu irmão gêmeo e quando isso realmente acontece, dura muito pouco, pois Renato acaba sendo morto no lugar do gêmeo bom. Isso desperta uma oportunidade para assumir a personalidade do outro e tentar uma oportunidade para conquistar o seu desejado lugar ao sol.


Gostando ou não da novela, é importante reconhecer que ela serviu como reflexão sobre o contraste social entre diferentes realidades através do seu protagonista. Cauã brilhou no papel desafiador de interpretar gêmeos, mas mesmo assim o seu protagonista não gerava nenhuma empatia ou torcida do público. Foi uma ideia boa, mas como acabou sendo mal desenvolvida, fez com que o público – que já esperava uma trama mais tradicional – não agradasse a grande massa. Ponto negativo.



Descaso da Globo


O primeiro motivo que foi responsável pelo mau desempenho da novela foi o descaso da emissora com a obra. Já imaginávamos que seria difícil lidar com uma obra já escrita e totalmente gravada, isso até mesmo para a Globo. A verdade é que ela serviu apenas como um tapa-buraco para a grande aposta ‘Pantanal’. Deu impressão de que a emissora pouco se importou com a divulgação da trama, talvez por consequência da troca da direção de dramaturgia.


Além disso, a novela sofreu na programação, onde somadas às chamadas pouco interessantes, era exibida a cada dia em um horário diferente (isso sem nenhum aviso), o que junto ao enredo impopular, afugentou o público. Ao final, consolidou-se como a pior audiência da história da faixa do horário com apenas 22 pontos de média na Grande São Paulo.


Novela com cara de filme

Imagem: Reprodução/Globo

Já não é de hoje que o público reclama dessa nova estética das telenovelas atuais em ser parecida com séries e filmes. Em ‘Um Lugar Ao Sol’ não foi diferente. Nas chamadas já era possível ver a imagem um tanto quanto azulada, de forma carregada, o que incomodou. Por acaso ou não, logo depois isso foi corrigido e a fotografia da novela ficou mais agradável.


“A gente precisa conversar…”

Imagem: Reprodução/Globo

Quem acompanha fielmente o gênero telenovela está acostumado com grandes acontecimentos que movimentam a história, como aqueles clássicos barracos ou aquelas surras que lavam a alma do público. Os personagens densos só conversavam e pouco agiam, assim como em “A Vida da Gente” (2011) e “Sete Vidas” (2015), onde é possível constatar que esse é o estilo da autora, sempre pautado no diálogo.


Durante toda a novela, houve um excesso de elipses, deixando subentendido muitos pontos importantes para o desenvolvimento da trama, como por exemplo no núcleo principal, onde o segredo de Christian foi revelado apenas no último capítulo e por conta da elipse utilizada, não soubemos como Bárbara (Alinne Moraes) e a família Assunção recebeu a notícia da farsa. Houve vários “buracos” preenchidos com passagens de tempo ou imagens do Rio de Janeiro, isso sem falar das inúmeras cenas repetidas.


Núcleos que andavam em círculos

Imagem: Reprodução/Globo

Até mais que a metade da novela, os núcleos se desenvolviam muito bem de certa forma, onde até mesmo “roubam” o protagonismo da história. A trama perdeu um certo fôlego isso porque praticamente todos os núcleos rodavam em looping e acabaram se tornando chatíssimos de acompanhar.


Isso aconteceu principalmente com ao triângulo amoroso Bárbara (Alinne Moraes) – Christian (Cauã Reymond) – Lara (Andréia Horta) e na trama de Rebeca (Andréa Beltrão), foi considerada a protagonista moral da história com o seu dilema do etarismo. Ficou meio white problem, sabe? Cansativo.


Por outro lado, a trama também acumula qualidades que merecem o seu devido destaque de maneira geral. Vamos a eles!


A discussão do etarismo

Imagem: Reprodução/Globo

Muito antes da novela estrear, já se noticiava que ‘Um Lugar Ao Sol’ abordaria ações de merchandising social já conhecidas do público, mas uma delas, o etarismo chamou atenção assim como as atrizes que entraram nesse debate: Andrea Beltrão e Marieta Severo, que de maneira diferentes defenderam a pauta do preconceito com pessoas mais velhas.


Não à toa que uma modelo de meia idade com suas questões sobre o envelhecimento e uma avó que através da maturidade, encontra forças para ser a protagonista da sua vida caíram nas graças do público. As atrizes desempenharam um ótimo papel que com certeza marcaram as suas carreiras e o público.


Personagem odiada pelo público

Imagem: Reprodução/Globo

Assim como em outras novelas, em ‘Um Lugar Ao Sol’ tivemos uma personagem que foi odiada pelo público. Joy (Lara Tremouroux) representava um perfil de jovem que vivia à margem da sociedade, onde desenvolveu uma maturidade imposta pela vida que tanto almejava mudar e não fazia nada para isso. Conhece Ravi (Juan Paiva) e acaba tendo uma gravidez indesejada, onde reluta, mas acaba cedendo em prol do amado, que sonha em ter uma família.


Mas isso não foi suficiente para sustentar esse novo momento, pois a jovem pouco se importava com seu filho, levantando o debate de como a maternidade precoce pode impactar as mulheres e como muitas delas não tem vocação mesmo. O talento da atriz foi essencial para a composição da personagem e da revolta que ela causou.


Elenco sumido retornou para a TV

Imagem: Reprodução/Globo

Mesmo com todos os seus problemas de produção e desenvolvimento, o elenco de ‘Um Lugar Ao Sol’ era primoroso. Através dela tivemos a chance de rever nomes que estavam sumidos das telinhas como Débora Duarte, Inez Vianna, Regina Braga, Denise Fraga, Eduardo Moscovis, Natália Lage, Ana Baird, Fernanda Nobre, Cláudia Magno e até mesmo Andrea Beltrão, afastadas das novelas há 20 anos.


Grandes atuações

Imagem: Reprodução/Globo

Não dá para negar que a novela teve um elenco primoroso. Conseguir resgatar nomes que estavam afastados da TV ou que não tinham mais destaque nas novelas foi o ponto forte. Dos veteranos, destaco as atuações de José de Abreu e Ana Beatriz Nogueira que arrasaram com personagens que nos fizeram refletir, emocionar e em alguns momentos até rir. No elenco “jovem”, Alinne Moraes, deu um show com a sua Bárbara, um personagem muito bem construído e cheio de nuances. Arrasou!


O que fica após o fim da novela?


Por mais que a autora tenha conseguido um fato quase que inédito, que é escrever uma novela inteiramente como a pensou, isso não foi nada bom para o público. Não dá para negar que mesmo com todos os seus problemas, a novela teve um início de grande potencial onde era ovacionada pela crítica e ao mesmo tempo criticada pelo público comum. É verdade, foi uma novela com muito mais erros do que acertos, mas não dá para jogar a responsabilidade na autora, que não merece todo o ódio que recebeu na internet durante os quatro meses que a novela foi exibida.


Talvez, em outro momento, formato ou horário, Um Lugar Ao Sol teria funcionado melhor. O estilo da autora, pautado no diálogo, não agradou ao público do horário nobre, que mesmo com suas qualidades de texto e personagens muito humanos, procura mais ação e emoção, sejam elas qual for. A novela encerra sua passagem pela TV como uma das obras mais injustiçadas já exibidas e não, infelizmente, é duro reconhecer que não vale a pena ver de novo.

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