Confira a íntegra da entrevista exclusiva com Mayara Magri fala sobre sua carreira, o seu sucesso nas redes sociais e sobre a reprise de ‘O Salvador da Pátria’ no Canal VIVA e mais.
GS: Vou começar com uma pergunta clássica, que você deve ter ouvido bastante: qual é o personagem que mais te marcou? E qual foi o mais desafiador?
Mayara Magri: Bom, eu também fiz muito teatro, além das novelas. O mais desafiador foi no teatro. Foi uma personagem bem complicada, Nina, de uma peça chamada “A Gaivota”. É uma das personagens mais difíceis que eu fiz. E é um clássico, a peça como um todo era mais densa, complicada, e [a Nina] é uma das personagens mais bonitas que existem na dramaturgia. A que eu mais gostei… São várias. Eu não posso dizer que tem só uma que eu mais gostei na minha vida. Eu vou repetir o que eu sempre falo: a Camila de “O Salvador da Pátria” foi muito especial pra mim, muito importante; a Babi de “A Gata Comeu”, que todo mundo adora e lembra até hoje; também a Condessa de “A Escrava Isaura”, que foi muito marcante… Eu gostei de todas. Com cada personagem você tem uma emoção diferente, num momento diferente da sua vida.
GS: Como você se sentia atuando tão jovem com grandes nomes da teledramaturgia, como Tarcísio Meira (em “Roda de Fogo”) e Betty Faria (em “Salvador”)? Isso ajudou a aprimorar a sua carreira?
Mayara Magri: Com certeza! Trabalhar com Tarcísio Meira foi um sonho realizado. E com a Renata Sorrah – eles eram meu pai e minha mãe [na novela], dois ídolos que eu tinha. Trabalhando com grandes atores, você aprende muito no dia-a-dia. A novela te dá isso, te dá sete meses de uma convivência muito grande, então você aprende muito, principalmente na televisão. Eu tive uma escola gigantesca, com grandes atores, em todos os trabalhos que eu fiz na televisão. A Betty é uma paixão! Uma grande atriz, uma mulher pra frente, moderna, que tem posições muito fortes. Trabalhar com ela, naquela época, foi muito importante, muito gostoso. Foi uma troca. O que é legal de você trabalhar com atores mais experientes é porque tem uma troca. Às vezes, a gente chega jovem, topetuda, acha que sabe tudo, e na verdade a gente não sabe nada! E é no caminho que a gente vai aprendendo. Isso que eu acho legal, sabe? Aprendendo e fazendo. Acho que a quantidade também é uma coisa importante, porque você vai amadurecendo com as personagens, ao longo da vida.
GS: Você citou as pessoas com quem já trabalhou, e você acabou passando por várias emissoras, então você trabalhou com vários artistas… É bem interessante essa experiência.
Mayara Magri: Eu acho que eu trabalhei com os melhores – claro que tem muita gente, com quem eu não trabalhei, que são maravilhosos. Mas trabalhei com Raul Cortez, Lima Duarte, Claudio Cavalcanti… Agora não vou me lembrar de todos, mas eu tenho um histórico de grandes atores com quem eu contracenei. E olha… Não tem nada melhor na vida. Jogar, assim, em cena, é muito bom.
GS: Imagino que sim! Voltando pra sua carreira: por que você se afastou das novelas?
Mayara Magri: Eu acabei me afastando por alguns motivos, mas nada muito sério. Continuei fazendo teatro, nunca parei com o teatro. E as novelas acabaram ficando mais distantes de mim, coisa da qual acho que muitos atores passam, não tem uma explicação muito lógica. Eu tenho algumas suspeitas, mas nada que eu posso te dizer: “foi por isso”.
Mas você ainda tem vontade de voltar pra TV?
Mayara Magri: Eu tenho vontade e vou voltar! Eu acho que eu ainda tenho uma carreira bem grande pela frente. Eu tenho muita coisa pra fazer, sabe? E essas reprises só me provaram o quanto as pessoas gostam de mim, o quanto elas querem que eu volte. Então, com certeza, eu ainda tenho muita coisa pra fazer na minha vida como atriz.
GS: Aproveitando esse gancho, eu queria saber o que você tá achando da repercussão, nas redes sociais, desses seus trabalhos com mais de 30 anos.
Mayara Magri: Eu não esperava! E o mais legal é que “Roda de Fogo”, “O Salvador da Pátria” e “A Gata Comeu” estão passando juntos, e agora vem “Amor com Amor se Paga”. Eu passei quase um ano no ar com coisas que eu gravei há 30 anos atrás. E muita gente falando comigo… Gente jovem! Eu tô muito encantada com as pessoas do Twitter – você também faz parte né? Os comentários das novelas… Eu participo de tudo, eu adoro. Eu entro na de todo mundo, como se eu não tivesse feito. E isso me alegrou muito nesse ano, que também foi complicado. Ficar no Twitter, falando sobre “Salvador”, que é o mais comentado… “Salvador” explodiu, né? As pessoas amam! Isso me deixa muito feliz, é um presente que você não espera! Esse ano foi muito legal, mesmo.
Você até falou da geração mais nova, e eu me incluo nessa, porque eu tenho 20 anos…
20 anos! Sabe o que eu acho mais legal? É vocês adorarem as novelas antigas! Eu também adoro! Eu era noveleira antes de ser atriz. Elas [as novelas] fazem parte da nossa vida! Não sei explicar, mas antigamente tinha um fascínio que as novelas traziam pra gente, e eu acho que hoje mudou. Conversar com pessoas de 20, 18, 25 anos, é muito legal.
GS: Eu falo por mim, porque é a primeira vez que eu tô assistindo “O Salvador da Pátria”, que não é uma novela não tão falada como outras dos anos 80, como “Vale Tudo” ou “Tieta”. Eu nem planejava assistir, por se tratar de uma novela tão regionalista, fora do que eu costumo gostar em novelas, mas foi uma grata surpresa, porque é uma novela muito boa, e muito atual! Por que você acha que ela continua atual, mesmo depois de 32 anos?
Mayara Magri: Porque ela trata de assuntos que, infelizmente, não mudaram no país. A política, como retratada naquela época, tem muitas semelhanças com o que a gente vive hoje, infelizmente. São 32 anos, a gente merecia que as coisas tivessem mudado. A gente merecia um governo diferente, uma esperança mais legal com relação ao país. O Sassá Mutema (Lima Duarte) transmite muito isso. Ele era aquele cara que todo mundo achou que podia mudar muita coisa; ele chega no poder e passa a agir como os poderosos, mas ele volta para as suas raízes, volta a ser aquele Sassá antigo, e isso faz com que a gente acredite que isso pode mudar. Não as pessoas, como na novela, mas eu acho que a gente ainda pode mudar muita coisa dentro desse país que merece mudar. E a novela mostra todos os caras que são safados, tem muita gente safada ainda no poder. Mostra corrupção, tráfico… Uma coisa que eu achei muito legal num capítulo que passou, foi o médico falando da AIDS, que em 1989 ninguém sabia direito o que era. Claro que tem coisas que você fala: “isso não aconteceria em 2021.” Mas outras, você fala: “meu Deus, parece os dias de hoje!” Muitos temas tocados nessa novela, talvez não pudessem ser tocados hoje. E o interior do Brasil é muito rico em experiências, em histórias. A novela se passar no interior mostra uma outra visão além de Rio de Janeiro e São Paulo.
GS: A novela tem uma certa ousadia na hora de abordar alguns temas mais “polêmicos”, mesmo que não seja de forma explícita. Por exemplo quando a sua personagem e a personagem da Suzy [Rêgo, que vivia Alice na novela] conversam abertamente sobre sexo com a Marina [personagem de Betty Faria, mãe de Camila e Alice]. É uma coisa que não se via antes, e com o fim da censura, passou a ser mais liberado.
Mayara Magri: Exatamente! Você tem o contraponto da relação aberta da Marina com as duas filhas, com a família da Gilda [personagem de Susana Vieira], que se dizem a “perfeita família brasileira”, quando na verdade são todos hipócritas.
Como nós já falamos, “Amor com Amor se Paga” vai substituir “Salvador” no Viva. Como você se sente estando no ar em tantas novelas seguidas?
Mayara Magri: Eu me sinto super bem! “Amor com Amor se Paga” foi a minha primeira novela na Globo, eu era mais menina ainda! Eu tive a sorte de trabalhar com Yoná Magalhães, o [Carlos Eduardo] Dolabella, Matheus Carrieri, que também era um menino… A gente fazia aquele casal jovem, que se casa… Eu acredito que vai fazer muito sucesso de novo. A sua geração nem sonhava com essa novela! Ary Fontoura fazendo Seu Nonô é uma das coisas mais brilhantes da TV, vocês vão amar! Eu tenho certeza que vai ser um estouro!
GS: Quem falava muito dessa novela era minha avó. Ela sempre chamava alguém da família de “seu Nonô”, e agora é minha oportunidade de conhecer o porquê! Tem um comentário aqui [na live], dizendo que a minha geração gente nostalgia de um tempo que eles não viveram. Muitas vezes é o que eu também sinto [em relação a novelas antigas].
Quando eu tinha 20 anos, eu tinha uma nostalgia imensa de coisas que eu também não tinha vivido, então eu me identifico muito com vocês. E eu não sabia explicar, sabe? É um sentimento nostálgico que eu tinha vendo coisas dos anos 70. Eu entendo muito o que os jovens sentem hoje, vendo as novelas antigas. Eu acho muito legal, porque em 2021 é tudo muito diferente. E pensar que tem jovens com uma mentalidade tão bacana, não só porque são noveleiros, mas porque valorizam coisas bacanas que passaram, e se identificam, e isso é mais legal ainda!
GS: Você é uma das poucas artistas que se mantém próxima dos fãs nas redes sociais. Em maio, eu entrevistei o Alexandre Borges, e ele também tem essa característica. Você voltou para as redes sociais justamente pra ficar mais próxima deles? O que você acha da sua nova legião de fãs, alguns até com menos de 20 anos?
Mayara Magri: Eu não tinha essa proximidade. Tudo começou agora, na pandemia, e com “O Salvador da Pátria”. Um dia, eu entrei no Twitter e vi que tinham muitos comentários, mas muitos! Aí eu comecei a interagir com as pessoas, e quanto mais eu interagia, mais pessoas falavam comigo! Isso me deixava muito feliz, muito contente, eu ria muito vendo as coisas postadas. Aí alguém me chamou pra comentar o capítulo numa sala de bate-papo, um dia.
GS: É, você participou comigo! Um dia, eu falei assim: “gente, quantos anos vocês têm?” Tinha pessoas de 15, 20 anos dizendo que adoravam a novela. Isso é muito legal, e me aproximou muito de todo mundo! A ponto de mim até me encontrar com algumas pessoas, conversar com elas todo dia… A gente fala muito da novela, da Betty Faria. A Marina Cintra explodiu, e quando passou a novela não foi essa explosão! Acho que nem ela, nem o Lauro César Muniz [autor da novela] esperavam isso. Na época, quem explodiu foi a Clotilde [Maitê Proença], que tinha esse lado mais romântico. Agora todo mundo ama a Marina porque ela é muito forte, determinada, ela corre atrás… Marina Sintra é a dona da novela! E o [José] Wilker, que é maravilhoso, que faz muita falta. O casal teve uma química extraordinária! A Internet proporcionou um encontrou com atores, artistas, que as pessoas nem sonhavam. Na minha época isso era impossível. Hoje você pode conversar, falar, entrevistar, de uma forma mais informal.
GS: Por que você acha que as novelas do Lauro César Muniz continuam tão atuais? “Roda de Fogo” também discute temas que ainda não muito atuais.
Mayara Magri: Eu fiz quatro trabalhos muito importantes com o Lauro. Na internet, as pessoas comentam que ele foi um visionário. Eu também acho, acho muito impressionante que coisas que ele escreve em “Roda de Fogo” sejam tão premonitórias. Não sei se ele tinha essa consciência, acredito que não. A sensibilidade do autor faz que ele tenha uma dimensão um pouco mais aberta pra captar coisas. Quando você escreve, não imagina que isso vai refletir ou permanecer igual por tantos anos. Eu acho que isso é um talento.
GS: A gente lembra do Gilberto Braga, que acabou falecendo semana passada. Essa era uma característica que ele também carregava. “Vale Tudo” é mais atual do que nunca. Como você disse, é um talento dos autores dos anos 80 e 90 de terem uma visão mais pra frente.
Mayara Magri: Eu nem sei se é verdade, mas eu penso que esses autores também foram autores de teatro, num momento em que o teatro tinha uma importância muito grande na vida das pessoas. E o autor de teatro já tinha uma visão muito profunda da sociedade brasileira, escrevendo sobre o Brasil, sobre as coisas que aconteceram na Ditadura, ou depois. E quando eles levam isso pra televisão, você percebe uma profundidade maior, eles falam com propriedade. Eles sabem do que estão falando.
GS: Seu último trabalho foi no começo dos anos 2000, em “A Escrava Isaura”. No que diz respeito a marcações, na questão de direção, você sente muita diferença entre os anos 80 e 2004?
Até 2005, continuava a mesma coisa. Eu sei que os aparelhos ficaram mais modernos. Vai saber onde isso vai parar, né?
GS: O streaming tá fazendo o maior sucesso. As plataformas pretendem começar a fazer novelas – a Grazi Massafera tá sendo sondada pra um remake de “Dona Beija”. Você se enxerga dentro desse novo mercado? Tem alguma chance de você fazer algum trabalho no streaming?
Mayara Magri: Todo mundo tem! Eu acho muito bacana. Imagina, refazer “Dona Beija”, que foi uma das novelas mais bacanas que a Manchete fez! Lá, sim, era muito complicado… Os estúdios não tinham ar condicionado, a gente grava o dia inteiro com as aquelas roupas, perucas… Isso era meio pré-histórico: a gente usava ventiladores gigantes pra não desmaiar, pra ventilar o estúdio. A gente não tinha a tecnologia atual pra gravar externas. Essa foi uma diferença bem gritante do que eu tinha vivido na Globo, e depois o que eu fui viver no SBT e na Record. A Manchete fez grandes trabalhos, de grande sucesso. Mas o comecinho dela não foi fácil.
Tem algum outro trabalho seu que você gostaria que fosse reprisado, eventualmente?
Mayara Magri: No SBT, tem “Éramos Seis”, que foi um trabalho lindo. Na Globo, “Salomé”, uma novela que não fez um grande sucesso, mas foi tão bem cuidada, bem dirigida, bem interpretada… Eu acho que merecia voltar. Novela de época, com a Patrícia Pillar, com grandes atores. O Globoplay deveria apostar nisso.
GS: A gente torce pra que a Globo resgate essas novelas mais antigas, porque as próximas do VIVA são bem atuais. Em 2022, o canal vai ter quatro novelas dos anos 2000, a única mais antiga será justamente “Amor com Amor se Paga”, de 1984.
Mayara Magri: Eu acho que não tem nada a ver! A gente quer r
ever coisas do passado, mais antigas. As novelas atuais não fazem a cabeça da gente. Aquele encanto que eu sentia pelas novelas antigas, eu já não sinto mais. Você vai ver o sucesso que vai fazer a novela de 84! Vamos continuar juntos no Twitter [falando sobre a novela].
GS: Você tem algum novo projeto em mente, no teatro, na internet?
Mayara Magri: Não, não tenho. Nenhum projeto. Vou ficar só assistindo às reprises e pensando em possibilidades, principalmente no teatro. Mas nada de concreto.
GS: Investe no teatro aqui em São Paulo, que eu e seu público estaremos lá pra te conhecer! Você participou daquele encontro de 30 anos de “A Gata Comeu”, que reuniu todo o elenco, no Rio de Janeiro, você participou, né? Se não fosse pela pandemia, pode ter um encontro de “O Salvador da Pátria”!
Mayara Magri: Sim, foi na Urca! Mas a pandemia também impediu os outros encontros de “A Gata Comeu”. E foi uma loucura, fecharam a rua! Eu não esperava que fosse tanta gente. Depois eles saíram olhando as casas que serviram de locações pros personagens. Foi um acontecimento, e tudo organizado pela internet!
De certa forma, o encontro da nossa bolha noveleira foi virtual, né? É uma experiência que eu considero muito rica pra todos os lados, trazendo à tona assuntos tão atuais, conhecer pessoas… Foi uma união que ocorreu num momento tão difícil que a gente ainda tá passando. As novelas foram uma válvula de escape, um conforto.
Mayara Magri: Eu também fiz amizades pelo Twitter, também comento com as meninas as coisas que acontecem… Parece que é uma bolha mesmo que a gente entra, vivendo um mundo que eu vivi há muito tempo, pra reviver coisas de 30 anos atrás. Pra eu tem sido muito importante, foi uma alegria acontecer isso esse ano. Eu também sinto esse conforto, porque a gente esquece [da vida]. Vai, assiste o capítulo e fica ali comentando – as pessoas são muito engraçadas, eu morro de rir com os comentários! Isso faz a gente ser mais leve, o ano passou mais tranquilo. Agora a gente já tá superando essa fase pior da pandemia, e foi realmente uma válvula de escape nas nossas vidas. Novelas dão trabalho, emprego pra muita gente. A telenovela é muito importante pro Brasil, a gente não pode desdenhar ou achar que é um produto menor, de forma nenhuma.