Assim como em suas outras novelas, Maria Adelaide Amaral usou e abusou da metalinguagem e de trocadilhos para referenciar diversas novelas em seu segundo remake na Globo
Mal dá para acreditar que já se fazem 12 anos que ‘TiTiTi’ estreou na TV Globo. A verdade é que a ideia de fazer um remake de um clássico dos anos 1980 e ainda misturar tramas de outros deu super certo, como aconteceu na novela que trazia a espinha dorsal de ‘TiTiTi’ (1985) e outras tramas de “Plumas & Paetês” (1980), ambas escritas por Cassiano Gabus Mendes.
Já na sua primeira novela como autora titular, Maria Adelaide Amaral adaptou ‘Anjo Mau’ (1976), outro clássico do seu mestre e que foi um sucesso. Na obra, já era possível perceber a inserção de referências novelísticas no texto e até nos personagens. A maioria delas vinha através da personagem Goreti (Lilia Cabral) que sempre citava alguma referência de novelas como ‘A Próxima Vítima’ (1995), ‘Cambalacho’ (1986), ‘Meu Bem, Meu Mal’ (1990) e ‘Dancin Days’ (1978).
Nela também havia o personagem Rui Ferreto Novaes (Mauro Mendonça), isso mesmo, você leu certo. Em vários capítulos ele dizia alguma frase de efeito e referência à sua prima mais velha Filomena Ferreto (Aracy Balabanian), de ‘A Próxima Vítima’ (1995).
E olha que isso não é nenhuma novidade. Lá na década de 1980, os autores Cassiano Gabus Mendes e Silvio de Abreu usaram e abusaram desse elemento divertido nos textos das novelas da 19h, o que acabou virando tendência no horário. Ou seja, além de atualizar um clássico, Maria Adelaide Amaral, que tem um texto excelente, ainda manteve a essência oitentista na novela que aprendeu com os dois autores que foi colaboradora antes de estrear como novelista solo.
Quando a novela foi reprisada entre 29 de março a 8 de outubro de 2021, conseguimos dar mais atenção a esses detalhes que foram muito bem elogiados nas redes sociais, por isso separei os melhores pra você. Confere aí!
O reencontro do mesmo personagem das duas versões
Começo com uma das referências mais legais e ainda mais honrosas. A autora resgatou o personagem Mário Fofoca (Luis Gustavo), de ‘Elas Por Elas’ (1982) e conseguiu muito bem amarrá-lo na história atual. Em um certo momento da trama, ele vai trabalhar com Ariclenes/Victor Valentim (Murilo Benício) e acaba se passando pelo costureiro e consequentemente revivendo o seu personagem. É emocionante.
Outro momento parecido aconteceu com Malu Mader e Juliana Paiva. Isso porque era um encontro das duas gerações da mesma personagem. As duas, que já tinham uma relação familiar por serem sogra e nora, se tornam colegas de trabalho na revista Moda Brasil, comandada pela renomada jornalista Suzana Martins (Malu Mader). A referência pode passar despercebida, pois quem não conhece a versão original pode entender que é apenas uma admiração profissional, mas não é. Malu deu vida à jovem Valquíria na primeira versão da novela e pôde voltar ao passado nesse momento, relembrando aquela época. Só quem é noveleiro ia sacar!
"Sua fera radical!"
Ainda falando em Malu Mader, uma personagem foi citada na trama, trata-se de Cláudia de ‘Fera Radical’ (1988), protagonista que tocava o terror na novela. Pela boca de Jaqueline Maldonado (Claudia Raia) – a personagem que talvez cite mais referências novelísticas na história – apelidou sua rival com o título da novela. Em todas as cenas que elas estavam juntas sempre saia esse apelido. Divertido!
Outra cena que chamou atenção pela criatividade e aleatoriedade é essa acima, onde as duas estão cantarolando o tema de abertura da novela enquanto ouvem o LP com Carla Camurati na capa. Ariclenes (Murilo Benício) aparece no apartamento da sua ex-esposa e cita a semelhança entre a dupla Faísca e Espoleta, de ‘A Favorita’ (2008), interpretadas pela própria Cláudia Raia e Patrícia Pillar e que Murilo também participou.
Jaqueline Maldonado, a maior noveleira da novela
Quando citei acima que Jaqueline Maldonado fosse talvez a que mais fizesse referências à outras novelas, não estava mentindo. Logo no primeiro capítulo ela vai com sua filha Thaisa (Fernanda Souza) conhecer o ateliê de Jacques Leclair (Alexandre Borges) e fica impressionada com os modelitos um tanto quanto exagerados. O momento é propício para compará-los aos figurinos usados pela Viúva Porcina (Regina Duarte) em ‘Roque Santeiro’ (1985).
‘Sete Pecados’ (2007) também deu as caras no texto de Jaqueline Maldonado, na altura que ela já era a divertida Irmã Tormento. Na cena, as duas freiras conversam sobre alguma situação e o trocadilho logo aparece. Claudia Raia também participou da novela como Agatha, mas acabou morrendo ao abrir uma caixa de presente com uma bomba dentro. A cena é memorável.
A grande vilã de ‘Rainha da Sucata’ (1990) foi lembrada também, mas agora de maneira um pouco sem noção, mas engraçada. O motivo, é que a cena a qual Jaqueline se refere é uma cena de suicídio, onde a megera se joga do alto de um prédio localizado na Avenida Paulista, em São Paulo após uma briga com a “sucateira ordinária” Maria do Carmo (Regina Duarte) para incriminá-la. Jaqueline era cheia dessas sacadas inusitadas capaz de nos surpreender.
A perua também citou indiretamente a novela ‘Duas Caras’ (2007) quando cruza com Flávia Alessandra no apartamento de Stella (Mila Moreira). Ela lembra da personagem Alzira, que era dançarina de pole dance e é claro que o momento sem filtro rendeu um leve constrangimento à atriz pela falta de intimidade entre as duas que ao mesmo tempo nos divertiu.
Quem está dizendo a verdade?
O sucesso foi tanto que depois de dois anos de estreia, ‘A Favorita’ (2008) também foi lembrada, agora por Stéfany (Sophie Charlotte), que era uma espécie de vilã teen criada pela autora. Ela morria de inveja da prima Desirée (Mayana Neiva) e durante toda a novela aprontava poucas e boas pra conseguir o que quer, até mesmo cometer pequenos delitos, mas sempre se passando por boazinha. Essa com certeza aprende certinho com a Flora (Patrícia Pillar).
Outras novelas também foram lembradas
Ariclenes relembrou ‘O Clone’ (2001) ao se comparar com Murilo Benício que interpretou além dos gêmeos Lucas e Diogo, Léo, somando três personagens na novela de Gloria Perez. Ainda em outro momento, Ari mencionou Tenente Wilson, personagem que interpretou na série ‘Força Tarefa’ (2009).
Outra atriz que participou de ambas versões de ‘Ti-Ti-Ti’ foi Betty Gofman, que em 1985 interpretou Madu e em 2010 a secretária Help. Depois de uma mudança na direção da editora, ela acaba assumindo o comando da Moda Brasil e vira uma cópia barata de Anna Wintour fazendo com que o nível de qualidade da revista caia. Sua amizade com Rony Pears (Otávio Reis). Na cena em questão, a referência aparece justamente no texto. O ator que interpreta o projeto de estilista é justamente o dublê do macaco Xico de ‘Caras & Bocas’ (2009). Legal, né?
‘Meu Bem, Meu Mal’ (1990) também foi citada em nas falas de Jacques Leclair (Alexandre Borges) e Clotilde (Juliana Alves) quando citam Dom Lázaro (Lima Duarte) e Magda (Vera Zimmermann), personagem que retorna para o remake, assim como outros personagens do universo de Cassiano Gabus Mendes.
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