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  • Foto do escritorGeovanne Solamini

Reprise de Sassaricando no VIVA reforça a essência frenética dos anos 80

A novela de Silvio de Abreu reforçou a essência dos anos 80 com elementos das chanchadas e do teatro que a fizeram uma comédia clássica da teledramaturgia


Tônia Carrero e Paulo Autran em Sassaricando | Imagem: Memória Globo

34 anos após sua exibição original, o Canal VIVA nos permitiu acompanhar a reprise de “Sassaricando”, novela de Sílvio de Abreu, um dos maiores sucessos da época de ouro do horário das 19h. Foi uma verdadeira máquina do tempo que nos levou diretamente para São Paulo no final da década de 80, muito influenciada pela chanchada e por clássicos do cinema internacional, trazendo o habitual texto inteligente e afiado de seu autor, sem perder a seriedade, o drama e o mistério que Silvio sabe amarrar muito bem em todas suas novelas.

Destoando de novelas que buscavam retratar mais fielmente a situação socioeconômica do Brasil na época, como “Vale Tudo” (1988) e “O Salvador da Pátria (1989), “Sassaricando” teve sua direção assinada por Cecil Thiré, que deu a ela uma linguagem ágil, inovadora e com grande influência do teatro, de onde vinham muitos nomes do elenco.

Por 184 dias, acompanhamos os “sassaricos” de Aparício Varela, interpretado pelo grande Paulo Autran – a novela feita exclusivamente para ele após seu sucesso em “Guerra dos Sexos” (1983), também escrita por Sílvio, e foi a última novela inteira que Autran fez, por decisão própria.


Casado por interesse com a herdeira da Tecelagem Abdala, Teodora (Jandira Martini), a quem é submisso (e com quem tem uma filha, Fedora, vivida pela excelente Cristina Pereira), Aparício fica viúvo e reencontra sua antiga paixão, a estilista Rebeca (Tônia Carrero), e tenta reconquistá-la, mas é rejeitado.


Ainda que não desista de seu grande amor, tenta conquistar as suas duas melhores amigas: a atriz Leonora Lammar (Irene Ravache) e a dona de casa divorciada Penélope (Eva Wilma) – as três se conhecem num acidente de carro e vão morar juntas, unidas na missão de encontrar um marido rico, numa clara referência ao filme “Como Agarrar um Milionário” (1953).


Irene e Eva formaram uma ótima dupla, ganhando mais destaque até do que a personagem de Tônia. As três viviam na companhia da empregada doméstica Dinalda (Stella Freitas), que sempre tinha um comentário ácido na ponta da língua.

Os núcleos e personagens eram poucos, mas bem amarrados e cheios de personalidade: na família Abdalla Varella, tínhamos figuras como Lucrécia (a lendária Maria Alice Vergueiro), a fotógrafa Camila (Maitê Proença) e o golpista Leonardo Raposo (Diogo Vilela), que formava com Fedora um dos melhores casais da novela; a facção criminosa ELA, que funcionava liderada por Bóris Aidan (Lourival Pariz), com ligações com a Interpol, dava um ar policial e absurdo à novela, na medida certa.


A entidade era tida como uma religião por alguns personagens, mantida sob sigilo com o disfarce de uma boate – este núcleo tinha a presença ilustre de Jorge Lafond, vivendo Bob Bacall, poucos anos antes de marcar o imaginário brasileiro como a drag queen Vera Verão.


Mas o grande destaque, sem dúvida alguma, foi o cortiço localizado no Brás, na região central de São Paulo, além da feira onde a família da espanhola Aldonza (Lolita Rodrigues) trabalhava, palco de grandes confusões durante a novela. Ali estava Tancinha, a personagem mais popular da novela, lembrada até hoje pela atuação inspirada de Claudia Raia. A personagem, criada exclusivamente para ela, roubou a cena na novela com sua personalidade única e o seu jeitinho de falar errado, resultando em uma composição muito natural, num trabalho impossível de ser copiado ou equiparado – coadjuvante em “Sassaricando”, Tancinha foi a protagonista do remake de uma releitura desta novela, “Haja Coração” (2016), onde Mariana Ximenes, recomendada pela própria Claudia ao papel, se esforçou, mas não conseguiu repetir o mesmo sucesso. Tancinha protagonizava uma boa parte das confusões da novela, “divididinha” num triangulo amoroso entre Apolo (Alexandre Frota), seu namorado desde a infância, e Beto (Marcos Frota), filho de Penélope, publicitário que acaba a conhecendo e se apaixonando.

Sua passagem pelo VIVA foi uma ótima oportunidade para acompanhar um dos maiores sucessos das telenovelas brasileiras. Uma novela que serviu como válvula de escape em tempos de pandemia quando foi reexibida, sendo considerada por alguns internautas uma reprise de grande sucesso, principalmente nas redes sociais onde era comentada em tempo real nos dois horários que era apresentada. Uma das melhores cenas da novela, e também uma das, mais comentadas no Twitter, foi o momento que Lucrécia e Aprígio (Laerte Morrone) vão atrás de sua filha Camila numa boate e, após uma grande confusão, vão parar no templo de ELA, que fica nos fundos do imóvel. Assim, todas as pessoas presentes acabam descobrindo a passagem secreta entre os dois ambientes e, sem saber do que se trata, acabam invadindo a “boate” do templo e tudo acaba numa grande festa, numa cena muito divertida, ao som de “Fatamorgana” de Dissidenten, onde todos dançam como se estivessem hipnotizados.

Como já comentamos em outro texto, foi uma boa oportunidade de conhecer a história original e analisar o seu remake “Haja Coração” (2016), que foi exibido quase que simultaneamente. As comparações foram inevitáveis e só mostraram que dela fizeram uma outra novela. Apesar da famosa barriga e acontecimentos girando em círculos, “Sassaricando” consegue divertir e nos prender à história, que valeu muito acompanhar de novo ou pela primeira vez, como foi o caso do autor deste texto.


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