Quase 14 anos após a sua estreia, novela nunca reprisada e sem muito apelo popular coloca em risco a audiência das tardes da Globo
Depois de muito mistério, falatório e muitas fake news, finalmente soubemos qual é a nova reprise do Vale a Pena Ver de Novo: ‘A Favorita’ (2008). É isso mesmo, teremos Flora e Donatela de volta nas nossas tardes para a surpresa de muitos que esperavam alguma obra já consagrada – ou saturada – para manter os bons índices de ‘O Clone’ vem tendo desde outubro de 2021 ou alguma novela nunca reprisada, como foi o caso da especulação de ‘Salve Jorge’ (2012).
A verdade é que essa decisão foi uma grande surpresa para o público em geral e foi mais uma daquelas que dividiu opiniões, pois lembrando em casos passados, onde novelas das 20h dos anos 2000 que foram reprisadas tarde demais e que continham uma temática mais pesada sofrerem na faixa de reprises da Globo. Esse foi o caso dos clássicos ‘Celebridade’ (2003), de Gilberto Braga, e ‘Belíssima’ (2005), de Silvio de Abreu.
A primeira é um clássico que há muito tempo era muito pedida pelo público e quando veio, “ninguém” assistiu. Estreou em dezembro que é uma época péssima para estreias, pois enfrentou o verão e os baixos índices de audiência a fizeram ser mutilada, fechando uma reprise mal editada de 125 capítulos. A segunda foi reprisada logo em seguida com a intenção de elevar os índices de audiência e por ser o último desejo do então diretor de dramaturgia da emissora e autor da novela, teve uma reprise mais longa e digna de 161 capítulos, mesmo com menos apelo popular ainda que a sua antecessora.
Indo direto ao ponto, a primeira novela das 20h de João Emanuel Carneiro pode sofrer o mesmo que essas outras duas obras citadas acima, que foram reprisadas após 14 anos e 13 anos, respectivamente. Isso porque além dela ter passado tanto tempo sem ser reprisada, a novela tem muitos pontos questionáveis e que não foram bons. Há de reconhecer que ela foi importante para a consagração do resgate de novelas do Globoplay, sendo a primeira a entrar na plataforma de streaming e fez com o que o público a olhasse com outros olhos.
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Agora, cito alguns motivos que podem fazer da reprise um risco para a TV Globo:
Reprise tardia
Há quem diga que uma novela precisa ter um tempo limite para ser reprisada pelo menos pela primeira vez e esse é um pensamento que pode até fazer sentido. A novela foi muito citada como uma boa opção para uma edição especial no horário nobre devido à pandemia de covid-19, mas jamais que a Globo reprisaria uma novela pautada em mortes num momento tão delicado. Isso fez com que ela retornasse no streaming e fizesse um grande sucesso.
Nesse caso o risco está aí, ela demorou demais para ser reprisada e pode sofrer o mesmo que os clássicos citados acima. Além disso, a novela não entrega os pontos de primeira, então quem já conhece a história e espera todo aquele thriller policial de primeira pode se frustrar. Talvez exibida no Canal VIVA fosse uma escolha mais inteligente.
Trama pesada
‘A Favorita’ conta a história de Flora (Patrícia Pillar) e Donatela (Cláudia Raia), amigas de infância que quando adultas formam a dupla sertaneja Faísca e Espoleta, tendo suas vidas entrelaçadas desde então. A novela pode ser considerada um tanto quanto pesada se levado em conta o núcleo central, onde Flora tocava o terror com os seus planos minimamente frios e calculistas, matando todo mundo.
Diferentemente de ‘Avenida Brasil’ (2012), que tem a mesma premissa de vingança, a novela é bem mais pesada justamente por isso. Há certos pontos que o clima chega ser aterrorizante, como a cena em que Gonçalo (Mauro Mendonça) morre, o que pode assustar o público do horário com cenas de violência físicas e verbais que talvez sofram duros cortes na reprise, mesmo elas sendo importantíssimas para o desenvolvimento do enredo. Vamos ver como isso será tratado e se terá um grande reflexo na audiência/repercussão.
Enredo irregular
Esse é o ponto chave para que haja quem prefira ‘Avenida Brasil’ (2012) e a considere melhor. Entendemos que foi a primeira novela do autor no horário nobre, então logo a responsabilidade e as cobranças seriam maiores, mas em questão de roteiro foram alguns problemas bem perceptíveis.
Com a trama central impecável, JEC foi brincando com o público – mesmo que confundindo – até que então se revelasse a verdade de quem era a mocinha e quem era a vilã. Até aí tudo bem, mas quando entravam os núcleos secundários… não era nada legal.
O núcleo de Triunfo e todos os seus moradores, o núcleo de Romildo Rosa (Milton Gonçalves), Maria do Céu (Déborah Secco), Augusto César (José Mayer) e Orlandinho (Iran Malfitano) eram pavorosos. Sinceramente, parecia que serviam apenas para preencher o capítulo e encher o saco, mas mesmo assim, o autor atirava para todos os lados e acaba envolvendo quase todos eles na trama central de maneira muito sem sentido mesmo. Estranho!
Desserviço com personagens que “viram” heterossexuais
Há um grande problema que está presente em quase todas as novelas do autor: ele sempre cria algum personagem que “volta pro armário”, me perdoem a expressão. São geralmente homens gays que sofrem por não serem aceitos pelas suas famílias e por pressão acabam sendo forçados ou se relacionam com mulheres do nada.
Isso aconteceu em ‘Da Cor do Pecado’ (2004), ‘Cobras e Lagartos’ (2006), em ‘A Favorita’ (2008) com Orlandinho (Iran Malfitano), que passa por situações constrangedoras por conta da orientação sexual e o caso mais recente com uma mulher, a Maura (Nanda Costa) em ‘Segundo Sol’ (2018).
Pode até ser considerado necessário retratar como as pessoas LGBTQIA+ sofrem, mas de maneira digna. Fazer com que esses personagens “virem” héteros do nada é uma sacanagem, um desserviço e que não se justificam a bissexualidade.
Com isso, a trama com narrativa ousada pode afastar o público mais conservador do Vale a Pena Ver de Novo, que costuma gostar mais das crônicas do cotidiano escritas por Manoel Carlos ou das comédias pastelões do Walcyr Carrasco. Bem editada, a novela pode valer a pena ver de novo. Confira 5 motivos para assistir a reprise.
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