A história das empreguetes conquistou o Brasil por abordar a relação de patroa e empregada com uma linguagem popular e muito humor
A gente piscou e mais um sucesso de 2012 completou 10 anos de estreia. Desta vez, foi a novela escrita por Filipe Miguez e Izabel de Oliveira, com direção artística de Denise Saraceni, exibida entre abril e setembro daquele ano auspicioso para as novelas da Globo.
Protagonizada por um trio feminino formado por Cida (Isabelle Drummond), Rosário (Leandra Leal) e Penha (Taís Araújo), as três são empregadas domésticas que passam poucas e boas nas mãos dos seus patrões e, por ironia do destino, acabam se conhecendo ao pararem em uma delegacia logo no primeiro capítulo.
Ali, na cela, as três Marias conversam sobre as suas vidas e logo identificam uma afinidade entre elas, que acaba sendo um pontapé inicial para uma grande amizade, logo após fazerem um pacto e dizerem: “dia de empreguete, véspera de madame”.
Assim como as outras novelas exibidas naquele ano, ‘Cheias de Charme’ foi um grande sucesso com o público do sofá e com a internet, algo que é um tanto difícil hoje, mesmo com a evolução tecnológica.
Foi uma verdadeira unanimidade entre o público. E, por isso, em comemoração aos seus dez anos, vamos relembrar nesse texto os fatores que a fizeram ser um clássico da teledramaturgia da última década. Vamos lá?
Valorização do trabalhador doméstico
Em uma época de ouro em que a Globo se aproximava bastante do público, ‘Cheias de Charme’ teve um papel muito importante em trazer à tona o debate sobre a relação de empregadas domésticas e patrões, logo com as protagonistas da história.
No decorrer da novela, as três protagonistas são vistas em diversas situações humilhantes e constrangedoras, que hoje são configuradas como assédio moral. Isso tudo fez o público refletir sobre o assunto até então nunca discutido na teledramaturgia brasileira.
Nesse contexto, o papel social da novela foi feito com muita informação sobre os direitos trabalhistas de profissionais domésticos, como a carteira assinada e férias remuneradas, por exemplo.
E não faltou merchandising social para essa história. Em uma parceria da Globo, Organização Internacional do Trabalho (OIT) e a ONU Mulheres, foi realizada uma campanha para que os empregados domésticos fossem incentivados a buscarem seus direitos e para que os patrões seguissem as leis trabalhistas. Penha e Lygia (Malu Galli) eram as porta-vozes da ação.
Conto de fadas moderno
Os autores da novela souberam muito bem escrever um verdadeiro conto de fadas moderno, onde suas protagonistas almejavam um final feliz, mas sem aquela ideia de um príncipe encantado.
Das três, Cida é a que mais se encaixa nesse perfil. A mais jovem das domésticas se apaixona por Conrado Werneck (Jonatas Faro), que posteriormente se casa com Isadora Sarmento (Giselle Batista), e acaba se tornando seu patrão. Clássico dilema já visto em outras novelas, como nas duas versões de ‘Anjo Mau’ exibidas em 1976 e 1997.
Foi um grande exemplo de mulheres contemporâneas, que são fortes, independentes e enfrentavam diversos preconceitos no decorrer do protagonismo de suas próprias vidas. Ou seja, tinham lá suas paixões, mas não dependiam de um príncipe encantado para serem felizes.
Investimento em conteúdo transmídia
No início da década de 2010, com a popularização da internet, a Globo passou a investir fortemente em conteúdo transmídia em sua programação, inclusive em suas novelas.
A exemplo disso, cabe lembrar os famosos blogs que existiam em ‘Ti-Ti-Ti’ (2010), e também na vida real, além dos vídeos em que os personagens de ‘Passione’ (2010) desabafavam, postados no site oficial da novela.
Já em ‘Cheias de Charme’, a estratégia foi outra. O clipe da música “Vida de Empreguete”, uma gravação amadora na qual Cida, Rosário e Penha criticavam suas respectivas patroas, foi publicado na internet de verdade para depois ser exibido na internet.
A gravação amadora realizada na casa de Chayene (Cláudia Abreu) foi postada em 23 de julho de 2012, e só foi ao ar na televisão na segunda-feira seguinte (30), para ser um verdadeiro fenômeno na internet. E foi!
Isso além dos mais de 35 produtos relacionados à novela que foram lançados com a parceria de grandes marcas.
As empreguetes dominaram a Globo
Quem assistiu à novela na época, se impressionou com a quantidade de inserção de ‘Cheias de Charme’ nos programas de entretenimento da Globo. Ao todo, foram mais de cinco momentos.
Rolaram participações das no ‘Mais Você’, ‘Vídeo Show’, ‘Caldeirão do Huck’, ‘Domingão do Faustão’, além do então recém-estreado ‘Encontro com Fátima Bernardes’ – onde Cida, Penha e Rosário, de Lygia (Malu Galli) e Chayene interagiram com a apresentadora.
As Empreguetes e a Chayene ainda participaram do Especial Roberto Carlos daquele ano, exibido no final do ano, cantando suas respectivas músicas com o rei. Um fenômeno!
Vilã cômica de Cláudia Abreu
Um dos grandes acertos da novela foi o elenco muito bem escalado. Os autores e a direção souberam muito bem mesclar grandes nomes como Aracy Balabanian, Dhu Moraes, Leopoldo Pacheco, Tato Gabus Mendes, entre outros, com jovens apostas da emissora na época.
Mas, sem dúvida alguma, o grande destaque foi a vilã cômica Chayene, a última grande personagem de Cláudia Abreu na televisão, infelizmente. A composição da atriz foi impecável e bem diferente de tudo o que já vimos dela. Cacau arrasou cantando, dançando e fazendo todas as suas vilanias tragicômicas.
A personagem eternizou bordões engraçadíssimos como ‘curica” e “ariranha”, por exemplo, sem falar do seu hit “Voa Brabuleta”, música chiclete que grudou na cabeça das pessoas.
10 anos de um sucesso que marcou época
Por fim, vale destacar que ‘Cheias de Charme’ foi uma daquelas que os autores, a direção e o elenco estavam em uma sintonia muito grande que resultou em um grande sucesso dentro e fora da televisão.
Foi uma novela boa, divertida e que nos fez refletir sobre assuntos sérios equilibrados com um humor inteligente característico do horário das 19h. Assim, tornou-se a maior audiência da faixa na década de 2010, 30,2 pontos de média geral.
A trama ganhou a sua reprise no ‘Vale a Pena Ver de Novo’ apenas quatro anos após a sua exibição original e repetiu o seu sucesso, elevando os índices de audiência da faixa de reprises da Globo.
É uma pena que os autores não tenham conseguido emplacar um novo sucesso, vide ‘Geração Brasil’ (2014), e que o filme das Empreguetes não tenha saído do papel. Seria uma boa aposta da emissora para aumentar ainda mais o sucesso da história.