Nova novela das sete investe em elementos típicos de tramas da faixa para conquistar o público que fugiu da faixa na última novela exibida
A nova novela das sete prometeu e cumpriu. Não é precipitado dizer que em apenas uma semana ‘Vai na Fé’ já tenha mostrado a que veio e resgatou o prazer de assistir à faixa que andava em baixa. Foram apenas seis capítulos, mas que certamente já conquistaram o público.
Com uma história popular, divertida e emocionante, Rosane Svartman - que agora assume sua primeira novela sem Paulo Halm - parece ter acertado em mais uma produção, e isso também vale para a direção de Paulo Silvestrini que se mostrou alinhada com o texto da autora.
Trama central forte e popular
Sem dúvidas o grande acerto da trama foi trazer em seu núcleo central, uma história popular e mais próxima da realidade do público que a assiste, a exemplo disso, quando em 2019 tivemos o sucesso de A Dona do Pedaço, no horário nobre.
O público já logo de cara se viu envolvido com a história de Sol (Sheron Menezes), que nas primeiras cenas já foi apresentada em sua fase atual vendendo suas quentinhas aos jingles populares oriundos de sucessos do passado.
A protagonista, por sua vez, já esbanjou carisma e ganhou a nossa torcida, além da compreensão com todos os seus dilemas apresentados no primeiro capítulo. A escolha de Sheron Menezzes como protagonista foi um grande acerto da novela, assim como a maioria do elenco ser composta por artistas negros com seus devidos destaques merecidos.
Metalinguagem
Outro elemento resgatado pela autora e que se destaca é a metalinguagem, elemento esse que apresenta diversas menções a outras obras no texto, principalmente as novelas da Globo. Desde a criação da faixa, esse é um recurso comumente usado e ficou popular por autores como Cassiano Gabus Mendes, Silvio de Abreu e Maria Adelaide Amaral – autora do remake de Ti-Ti-Ti (2010), novela que mais explorou esse recurso.
É através de Wilma (Renata Sorrah) que muitas dessas menções acontecem. A personagem, que é uma atriz que no passado foi uma grande estrela e hoje ninguém lembra, vira e mexe solta suas pérolas dos tempos áureos de atriz de novela. Não tinha atriz melhor para interpretá-la.
Na primeira semana já foram feitas menções à Gloria Perez, assim como outras novelas em que ela já atuou como Anjo Mau (1976), Guerra dos Sexos (1983) e A Gata Comeu (1985), que mostraram cenas fictícias dela e as respectivas vinhetas dentro da novela. Certamente, foi uma sacada genial e que ainda vai prometer muito na novela.
Núcleo musical
A música também se faz presente em Vai na Fé. Além do coral em que Sol canta na igreja, a autora investiu mais um cantor popular para a nossa teledramaturgia, personagens que costumam também ser um sucesso entre o público da internet e do sofá.
O personagem da vez é Lui Lorenzo (José Loreto), um cantor considerado machista, mas que embora não seja uma grande estrela na atualidade, ainda tem o seu público. Um tipo muito parecido com cantores que foram um fenômeno entre as décadas de 1990 e 2000.
Vale lembrar que somente na última década esse perfil de personagem foi constantemente presente na faixa das sete. A exemplo disso, tivemos as Empreguetes (Leandra Leal, Taís Araújo e Isabelle Drummond), Chayenne (Cláudia Abreu) e Fabian (Ricardo Tozzi) em “Cheias de Charme” (2012).
Além disso, somam-se à lista Léo Regis (Rafael Vitti) e Gui Santiago (Vladimir Brichta) em “Rock Story” (2016). Em outras faixas também tivemos recentemente o cantor de axé Beto Falcão (Emilio Dantes) em “Segundo Sol” (2018).
Abordagem da fé quase inédita
Para quem esperava uma novela à la Record, se surpreendeu. Mesmo que a Globo jamais faria qualquer coisa parecida, ainda assim houve quem acreditasse que a novela seria uma chamativa para o público evangélico, mas a obra não ficou pendente dessa abordagem.
Tanto que a religião evangélica é estritamente dedicada ao núcleo central da trama, de forma que faça parte do contexto e amarração dos integrantes da família de Sol. Ela, inclusive, faz parte dos seus dilemas entre as limitações impostas por ela e as necessidades da vida.
Além disso, é positivo que os protestantes sejam representados de forma digna, afinal, é uma forte e grande religião no país. Soma-se também que a abordagem não é usada como um elemento de redenção com aquele plot de “se converteu e se tornou outra pessoa”, muito visto em outras novelas.
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