Marcada por inúmeros equívocos, novela de Manoel Carlos retrata a diversidade de mães que a vida tem
Quando pensamos em mãe, muitas personagens passam pela nossa cabeça, não é mesmo? Lembramos daquela mãezona, da mãe má e com isso conseguimos identificar várias características que muitas vezes as fazem parecer com a nossa mãe.
Mesmo com seus inúmeros problemas que marcaram a quarta novela de Manoel Carlos, ‘Páginas da Vida’ (2006) ainda consegue ter pontos positivos, mesmo que eles sejam pouquíssimos. Com certeza um deles é um dos pontos fortes do autor: ele sabe muito bem como criar mulheres fortes, mesmo que ainda vivam envolvidas em um contexto machista, elas são marcantes e muitas têm a maternidade como principal característica.
Ainda que a trama central da novela gire em torno de três mães, é possível ver outros exemplos dessa figura tão importante e diversas, muitas só estão ali por estarem, como muitos ou quase todos personagens da história. Relembre as mães que marcaram essa novela.
Nanda, a mãe precoce
A menção honrosa a Nanda (Fernanda Vasconcellos), a mãe que é a protagonista moral da primeira fase da novela e que com sua história, serve como ponto de partida para o desenvolvimento da trama central protagonizada por Helena (Regina Duarte), cuja o único sentido de existir foi ter cruzado com a jovem. A partir disso, para sempre estariam ligadas.
Jovem, estudante e sonhadora, Nanda começa a novela vivendo em Amsterdã, na Holanda com seus amigos e seu namorado Léo (Thiago Rodrigues), de quem acaba engravidando de gêmeos e que o mesmo não aceita a ideia de ser pai.
Desiludida, retorna ao Brasil sem avisar os seus pais Alex (Marcos Caruso) e Marta (Lília Cabral), que a recebe de maneira muito cruel, humilhando-a durante a sua gravidez até que Nanda desesperadamente foge de casa e é atropelada. Esse fato, faz com que o nascimento dos gêmeos Clara e Francisco seja antecipado e acaba morrendo por complicações no parto.
Marta, a mãe cruel
A melhor personagem de ‘Páginas da Vida’ tinha a maternidade como um forte elemento da sua vida. Marta é aquele perfil de mãe que tem pulso firme, linha dura mesmo e às vezes (muitas) até cruel. Marcada pelas frustrações de uma vida infeliz, vê a oportunidade de investir nos seus filhos como forma de ter uma vida melhor.
Isso cai por terra quando descobre a gravidez de gêmeos da sua filha mais velha, Nanda (Fernanda Vasconcellos). Fato que faz a relação das duas muito mais complicada e a matriarca da família Toledo Flores é responsável pelo sofrimento da jovem que indiretamente morre por culpa da mãe.
As nuances da personagem a fazem dela muito humana, onde hora a odiamos e outras compreendemos os motivos para que ela seja tão dura. Ok, isso é um fato, mas uma atitude pode ter chocado a quem assiste: após a morte da filha, Marta acaba se tornando a responsável pelos netos e descobre que a menina Clara tem Síndrome de Down, doença que não era tão conhecida lá em 2001, quando os gêmeos nasceram.
Com isso, pela sua ignorância com a característica da neta somados a todos as consequências que ela poderia trazer, Marta entrega a menina à adoração alegando “não querer uma criança com defeito” e dá a criança como morta para o resto da família. Essa atitude é outra importante para o desenrolar do enredo.
Helena, a mãe adotiva
E finalmente cito a protagonista da história, que nessa novela é bem apagada – leia-se desinteressante – e sua única função na história é dada quando cruza com a vida de Nanda (Fernanda Vasconcellos). Helena (Regina Duarte) é a médica obstetra que examina e fica responsável por realizar o parto dos gêmeos Clara e Francisco.
Após relatar à avó dos gêmeos, Helena ainda tenta convencer Marta que sua atitude seria uma loucura, mas sem sucesso. Pelo apego com a história, adota Clara (Joana Mocarzel) e a cria com muito amor, sempre pensando em incluí-la na sociedade e lutando para que ela não seja vítima de preconceitos que infelizmente eram muito mais comuns na época e talvez ainda sejam hoje em dia.
Não podemos negar que Helena é apaixonada por Clara e demonstra ser uma mãezona, assim como é com seu outro filho adotivo Salvador (Jorge de Sá). Justificando o que cito acima, a personagem tem grande importância no início da novela, perde um pouco no meio, mas retoma o verdadeiro protagonismo na reta final, onde é afetada pela revelação do segredo de Marta (Lília Cabral) e também pela chegada do pai biológico da menina, que ao descobrir por completo, tenta deter a guarda do casal de gêmeos e acaba não conseguindo.
Quem nunca viu pelas redes sociais aquela cena em que Helena questiona e discute com a professora o porquê de sua filha ter um outro tratamento na escola, fazendo com que ela seja excluída? Um clássico importante.
Ana, a mãe complicada e “abusiva“
Mudando de apartamento, temos Anna Maria (Deborah Evelyn), mais uma personagem com características histéricas e surtadas para o currículo da atriz. Ela era uma bailarina frustrada e que tentava fazer da sua filha a sua nova versão, projetando todos os sonhos que não realizou na pobre Gisele (Raquel de Queiróz/Pérola Faria).
Anna obrigava Gisele a fazer aulas de balé, controlava cada passo da menina para que ela não engordasse e muitas vezes o comportamento era até abusivo, o que durou da infância até a adolescência. O pior de tudo é que essa mãe era tão obcecada que não enxergava e depois não sabia lidar com o problema de saúde da filha, que sofria de bulimia. Esse núcleo por muitas vezes rendia cenas de embates muito boas, mas também cansava pela chatice da guerra interminável entre mãe e filha.
Lalinha, a matriarca da família
Em uma curta participação em ‘Páginas da Vida’, Glória Menezes deu a vida Amália, ou Lalinha, como era conhecida por todos. Casada com Tide (Tarcísio Meira), era mãe de Carmem (Natália do Vale), Leandro (Tato Gabus), Elisa (Ana Botafogo), Márcia (Helena Ranaldi), Olívia (Ana Paula Arósio) e Jorge (Thiago Lacerda) e comandou a família como ninguém e representava aquela verdadeira mãezona. O que mais chamou atenção foi que logo após a sua morte, sua família não foi mais a mesma, mostrando o quanto a morte de uma mãe pode impactar a vida de todos que vivem ali.
Olívia, a mãe liberal
Para Olívia (Ana Paula Arósio), a maternidade nunca foi o seu grande forte. Casou-se com Sílvio (Edson Celulari) e desse amor teve Guilherme (Rafael Machado), mas quase não passava muito tempo com a criança e quando passava, era aquele tipo de mãe que deixava o filho fazer tudo o que quer. O mais interessante nisso tudo era ver a diferença da educação que ela e Sílvio davam ao filho, onde um tentava criá-lo com mais disciplina e outro com uma educação mais livre. É um retrato de quando os pais não estão alinhados em questão, podem ser responsáveis pelos traumas dos seus filhos.
Angélica, a mãe preconceituosa
Para finalizar, relembramos Angélica (Cláudia Mauro), a mãe preconceituosa de Gabi (Carolina Oliveira). Esse núcleo demora um pouco para aparecer na novela, mas quando vem, causa uma grande revolta. Ela é um daqueles exemplos mais repugnantes que uma mãe pode ser. Ensinava sua filha a não gostar de negros, fazendo com que a menina Gabriela entrasse em pânico quando tivesse contato com algum negro, seja a esposa de seu pai Selma (Elisa Lucinda), um enfermeiro ou qualquer outra pessoa.
Quem não se lembra daquela cena que Lucas (Paulo César Casagrande) não aceita mais o comportamento racista de sua filha e acaba dando uma lição na menina, uma atitude um tanto quanto controversa. E o final da personagem é trágico: ela acaba morrendo queimada em um incêndio no ônibus que estava. Ironia do destino ou não, foi fogo na racista!
Enfim, destaco a maternidade como um dos poucos pontos positivos que a novela tem, o que comprova que Manoel Carlos escreve boas mães.
Comments