top of page
  • Foto do escritorGeovanne Solamini

‘Tributo’ é um trabalho primoroso que a Globo precisa lançar logo e enquanto as estrelas ainda vivas

Episódio especial de Léa Garcia evidencia que todas as homenagens aos veteranos são mais do que justas, mas não dá para esperar mais pelo seu lançamento ainda sem data prevista

Foto: Globo/Raphael Dias

Exibida antecipadamente em caráter especial na noite da última terça-feira (15), em decorrência da morte da atriz Léa Garcia, a série ‘Tributo’ se mostrou um grande feito da Globo em 2023 – ano esse em que a emissora colhe bons frutos com as suas produções na TV aberta e também no Globoplay.


A atriz de 90 anos, morreu ontem, vítima de um infarto, em Gramado, no Rio Grande do Sul. Ela estava na cidade onde participava do Festival de Cinema de Gramado e receberia uma homenagem e o Prêmio Oscarito, pelo conjunto da obra.


Com isso, a decisão de exibir o episódio que homenageia a trajetória e o legado de uma das atrizes negras mais importantes das artes cênicas brasileiras foi muito acertada, afinal, o projeto que visa homenagear grandes artistas veteranos já é muito esperada pelo público que vibrou com uma superprodução, ainda que marcada por um acontecimento tão triste.


Um mergulho na emoção


O episódio realmente merece todos os elogios. Comandado por Juliana Alves, o que vimos ontem foi um trabalho impecável de pesquisa de imagens, muitas delas quase que inéditas, inclusive e com muita riqueza histórica da trajetória artística de Léa Garcia.


A ocasião reuniu atores, sobretudo atores e atrizes negros, que além de estarem presencialmente no encontro também deram seus depoimentos enriquecedores para a obra e, claro, a presença da atriz no estúdio para receber as devidas e honrosas homenagens.


Realmente fomos pegos pela emoção ao ver, talvez, pela primeira vez registros tão antigos de trabalhos dela, como nas adaptações para o teatro e cinema de "Orfeu do Carnaval" (1959), premiado com o Oscar de melhor filme estrangeiro em 1960 e também vencedor na categoria Melhor Filme do tradicional Festival de Cannes, na França.


Foi possível conhecer e reconhecer a grandiosidade de sua obra que contou com muitos êxitos, claro, mas também muitas dificuldades e lutas que abriram portas para as suas gerações subsequentes e que hoje brilham.


De veteranos como Elisa Lucinda, Zezé Motta, Neusa Borges e Antônio Pitanga aos recentes protagonistas como Camila Pitanga, Sheron Menezzes e Paulo Lessa, dentre outras personalidades da TV, abrilhantaram episódio com seus depoimentos muito bem amarrados ao longo de uma hora de arte. Sem dúvida, foi um grande acerto!


Ativismo em prática

Em dado momento, o episódio focou em sua grande contribuição para a televisão brasileira, onde foram citadas novelas de sucesso em que ela brilhou, como a memorável ‘Escrava Isaura’ (1976), onde Léa deu vida à vilã Rosa – momento esse em que foi um dos ápices do episódio.


Ao falar da personagem, Léa destacou uma atemporalidade da época em que a novela retratava (escravidão) com a atualidade, destacando a sua opinião que, se analisarmos, faz todo o sentido. Foi possível reconhecer a sua contribuição para um ativismo negro em diferentes décadas, quando isso ainda nem era pauta discutida.


“Me perguntaram sobre a Rosa e eu disse que Rosa se fosse uma mulher da atualidade, ela seria uma mulher do movimento. Ela teria consciência do que estava se passando, ela seria uma ativista, ela jamais usaria as armas que ela usou”, disse.


Além desta personagem, Léa ainda relembrou de outras atitudes – das mais simples às mais significativas – que tomou para garantir maior representatividade nas telinhas que foram muito importantes para os poucos artistas negros naquela época. São elas:


  • Em 1980, Léa Garcia interpretou a professora de história Leila na novela ‘Marina’. Insatisfeita com a forma que o povo negro era descrito no texto (com uma visão eurocêntrica), tratou ela mesma de fazer uma reparação no texto da obra e a levou para o diretor Herval Rossano, que concordou com que ela contribuísse para tal alteração e exaltação de Zumbi dos Palmares.


  • Outro ponto que chamou atenção foi a maneira como o convite para sua personagem no remake de ‘A Viagem’ (1994) surgiu: Wolf Maya a convidou para interpretar Natália no núcleo dos espíritos (céu) após a cantora Alcione declarar em uma entrevista, na época, que sentiu da representatividade racial no contexto abordado.


  • Léa ainda relembrou da sua personagem Cida no remake de ‘Anjo Mau’ (1997), que era mãe de uma filha branca, Teresa (Luiza Brunet), que a rejeitava e escondia a maternidade. A trama, segundo a atriz, era inspirada no filme ‘Imitação da Vida’ no qual sua personagem só recebe o reconhecimento após sua morte. Ela, então, ligou para os autores e questionou se era justo seguir com o mesmo destino, e por fim, conseguiu que a personagem permanecesse viva e mãe e filha se entendessem.


Assim, mostrando que, o seu ativismo sempre esteve presente em sua vida e era praticado fortemente em seus trabalhos. Talvez, essas informações fossem inéditas ou não tão conhecidas até hoje, mas, sem dúvida, foram percussoras para as gerações mais novas. E, juntamente, disso, amarrada com os depoimentos de muitos dos seus a quem trabalhou junto e as tem como uma grande referência. Justas homenagens!


Expectativas estão altas


Ainda que exibido de forma póstuma, ‘Tributo’ se mostrou como uma grande produção. Com roteiro assinado por Isadora Wilkinson e Lalo Homrich, direção de Matheus Malafaia e direção artística de Antonia Prado, é um projeto que já cativou o público que clama pelo seu lançamento. Aliás, cabe também parabenizar toda a equipe de pesquisa e produção que mandou bem.


Com isso, ficam as altíssimas expectativas para os próximos episódios que devem ser lançados em breve – ou melhor, quanto antes – pois é justo ser assim. Além de Léa Garcia, espera-se que nonagenários como, Laura Cardoso (95), Nathalia Timberg (94), Fernanda Montenegro (93), Lima Duarte (93) e o autor Manoel Carlos (90) entre outros sejam contemplados.


No entanto, é preciso que a Globo entenda que todos esses e outros nomes que tanto contribuíram para a construção da televisão brasileira, merecem as devidas homenagens ainda em vida – visto que em 2023 não são poucas as estrelas que, infelizmente, estão nos deixando... Eles merecem!



Comentarios


bottom of page