No dia 7 de abril comemoramos o Dia do Jornalista, data instituída em 1931 pela Associação Brasileira de Imprensa, em homenagem ao médico e jornalista Líbero Badaró. Defensor da liberdade de imprensa e oposicionista de Dom Pedro I, Badaró foi perseguido por exercer o seu ofício e sua função social, e morto por inimigos políticos em 1830 – sua morte alimentou a crise que se instaurou no império, gerando revolta entre a população, um dos motivos para a renúncia do imperador em 7 de abril de 1831.
Isso não mudou muito no século XX. Nos governos de Getúlio Vargas (1930 – 1945) e posteriormente – e principalmente – durante a Ditadura Militar (1964 – 1985), jornalistas e profissionais da imprensa sofreram nas mãos dos governantes que impunham censuras, ataques à jornais, passando pela tortura e até à morte de muitas pessoas ligadas à imprensa. A história recente do nosso país também mostra um esforço contínuo dos governantes em silenciar os profissionais do jornalismo: em 2020, o Relatório ABERT sobre Violações à Liberdade de Expressão registrou um caso de assassinato de jornalista pelo exercício da profissão e 150 casos de violência não letal, e segundo a ONG Repórteres sem Fronteiras, o Brasil continua nas listas mundiais de nações mais perigosas para o exercício do jornalismo.
Por serem vítimas em comum de repressão histórica, o jornalismo e a arte sempre estiveram lado a lado. Jornalistas sempre estiveram presentes na teledramaturgia, seja em obras com contexto histórico, retratando a importância do ofício em períodos importantes do nosso país, seja em abordagens cômicas equivocadas, representando o lado mais desonesto de alguns profissionais. Alguns autores de telenovelas e minisséries, por sinal, começaram suas carreiras como jornalistas, incluindo Benedito Ruy Barbosa e Aguinaldo Silva.
Relembre a representatividade dos jornalistas e a importância que tiveram em suas respectivas tramas:
No contexto histórico
Para falar do jornalismo em períodos importantes da nossa história, temos dois exemplos. O primeiro é “Lado a Lado” (2012-2013), novela vencedora do Emmy, que retratou muito bem a realidade dos profissionais do jornalismo no Rio de Janeiro do início do século XX. Laura (Marjorie Estiano) publicava textos sob o pseudônimo Paulo Lima, uma vez que mulheres eram impedidas de trabalhar como jornalistas na época, e Carlos Guerra (Emílio de Mello) representava a má administração das empresas jornalísticas no Brasil e colecionava desafetos com políticos da época.
Também situada no Rio, “Senhora do Destino” (2004-2005) mostrou, em sua primeira fase, a dura realidade dos jornalistas brasileiros durante a Ditadura Militar, vivida na pele pelo autor da novela, Aguinaldo Silva, que sempre revisita esse tema em suas obras. Nesse período, a censura dominava os meios de comunicação, exilava e matava muitos profissionais – como Vladimir Herzog, cujo assassinato foi divulgado como suicídio em outubro de 1975.
Na novela, Josefa de Medeiros Duarte Pinto (Marília Gabriela, uma jornalista vivendo outra jornalista na ficção) era dona do famoso jornal Diário de Notícias, que sofre duras censuras e tenta resistir aos anos de chumbo, mas acaba fechando – Josefa é exilada em outro país. Seu pupilo Dirceu de Castro (Gabriel Braga Nunes na primeira fase, José Mayer na segunda), que na juventude chegou a ser preso em nome da liberdade de expressão, reativa o jornal cerca de 30 anos após seu fechamento, fazendo-o circular comercialmente na democracia.
O jornalismo durante os anos de chumbo também foi retratado na supersérie “Os Dias Eram Assim” (2017), através da personagem Cátia Andrade (Barbra Reis), jovem jornalista idealista, dedicada a denunciar os horrores dos porões da ditadura.
Jornalismo Factual
Conhecida por sua sensibilidade em retratar questões sociais, Glória Perez foi responsável por um excelente exemplo da importância social do jornalismo. Em “Explode Coração” (1995), a jornalista Yone (Deborah Evelyn) protagonizou uma das maiores ações de merchandising social já vista em novelas: através dela, Glória apresentou o drama das Mães da Cinelândia, cujos filhos estavam desaparecidos. Misturando ficção e vida real, Yone apresentava na TV crianças que estavam desaparecidas, ajudando na divulgação de ações parecidas em várias cidades do país.
Em 2008, tivemos um núcleo de jornalistas em uma das novelas de maior sucesso na história recente, “A Favorita” (2008). Comandado pela editora chefe Tuca (Rosi Campos), o jornal O Paulistano tem em sua equipe os jornalistas Maíra (Juliana Paes, numa participação) e Zé Bob (Carmo Dalla Vecchia), homem idealista, que acredita poder mudar o mundo através do jornalismo. Pouco ortodoxo, ele seduz suas fontes em busca de informações, é perseguido ao denunciar as corrupções do deputado Romildo Rosa (Milton Gonçalves) e pouco dá satisfação no seu trabalho, uma vez que Tuca é uma chefe muito amiga e compreensiva, numa abordagem pouco realista.
Jornalismo de Moda
O mundo da moda está fortemente presente nas novelas brasileiras, e principalmente na faixa das 19h da TV Globo. Nas duas versões de “Ti-Ti-Ti”, em 1985 e 2010, a personagem Suzana Martins (vivida por Marieta Severo na novela original e por Malu Mader no remake) era uma renomada e competente editora de moda, que se envolvia na disputa entre seu ex-marido Ariclenes (Luiz Gustavo/Murilo Benício) e Jacques Leclair (Reginaldo Faria/Alexandre Borges).
No remake, adaptado por Maria Adelaide Amaral, o núcleo da revista Moda Brasil ganhou mais importância e relevância na história, ganhando muitos personagens (incluindo Adriano, respeitado jornalista vivido por Rafael Zulu) e mostrando diversos momentos da rotina de uma redação jornalística – este núcleo, por sinal, inspirou o autor deste texto a, ainda criança, escolher o jornalismo como profissão.
Em “Totalmente Demais” (2015), a revista que dava nome à novela era comandada com mãos de ferro pela exigente Carolina Castilho (Juliana Paes), que cobrava tarefas dificílimas à sua assistente pessoal Lu (Julianne Trevisol), numa clara referência às personagens Miranda Priestly (Meryl Streep) e Andy (Anne Hathaway) de “O Diabo Veste Prada”, filme de 2006.
Em 1988, a redação da revista de moda Tomorrow era um dos principais ambientes da clássica novela “Vale Tudo”. O editor chefe Renato Filipelli (Adriano Reys) e a produtora Solange (Lídia Brondi) eram responsáveis por recolocar Bartolomeu (Claudio Corrêa e Castro) no mercado de trabalho. Quase aposentado, ele era um jornalista com sérias dificuldades para se adaptar às novas tecnologias.
Jornalismo Sensacionalista/Celebridades
A curiosidade pela intimidade dos famosos é um tema recorrente nas novelas, principalmente no início dos anos 2000 – isso foi muito bem representado em “Celebridade” (2003), onde a equipe da revista Fama, liderada pelo inescrupuloso Renato Mendes (Fábio Assunção), não media esforços para conseguir um furo de reportagem.
No já citado remake de “Ti-Ti-Ti”, Help (Betty Goffman) assume a direção de uma revista de fofocas mesmo sem ser formada em jornalismo, criando matérias sensacionalistas com o único intuito de vender sua revista, prevendo a banalização da profissão que se tornaria ainda mais intensa com a popularização das redes sociais nos anos seguintes.
Na mesma novela, Sueli Pedrosa (Tuna Dwek) fazia alusão à jornalistas de programas de fofoca da TV brasileira – a personagem volta na novela “Sangue Bom” (2013), também escrita por Maria Adelaide Amaral, em parceria com Vincent Villari.
Mas, definitivamente, a representação mais fiel a esse tipo de profissional que está em ascensão nos últimos anos foi criada por Aguinaldo Silva em “Império” (2014). O personagem Téo Pereira (Paulo Betti) era o era o badalado colunista social que publicava vários escândalos em seu blog, e assim sofria também processos dos seus desafetos.
Referenciando colunistas como Léo Dias, Fabíola Reipert e até mesmo o próprio Aguinaldo, Téo foi um personagem caricato e de bastante apelo popular. Tinha uma parceria divertida com a jornalista Érika (Letícia Birkheuer), com quem sempre contava na missão de conseguir “cliques e mais cliques”, um de seus muitos bordões.
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