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Foto do escritorGeovanne Solamini

Exibição de ‘Todas as Flores’ na TV reacende o debate: Globo deveria voltar a produzir às 23h?

Em seus oito anos de existência, a faixa apostou em remakes de clássicos do passado e também em histórias inéditas e interessantes até ser renomeada e extinguida após a popularização do Globoplay

Foto: Estevam Avellar/Globo

Quase um ano após sua estreia bem-sucedida no Globoplay, chegou a hora de ‘Todas as Flores’ ganhar sua exibição em rede nacional na tela da Globo a partir desta segunda-feira (4), na conhecida como faixa das 23h, agora dedicada à exibição de conteúdos exclusivos da plataforma de streaming da emissora – em uma espécie de janela de exibição.


A trama escrita por João Emanuel Carneiro com direção artística de Carlos Araújo narra a história de Maíra (Sophie Charlotte), uma jovem deficiente visual que tem a vida completamente mudada após conhecer a mãe, Zoé (Regina Casé) e a irmã, Vanessa (Letícia Colin), as grandes vilãs que chegam com tudo para o grande público da TV aberta.


Com um enredo envolvente recheado de segredos, maldades e personagens dúbios, a obra será exibida de segunda a sexta-feira sempre após ‘Terra e Paixão’, exatamente na sequência da novela das nove, exceto às quartas-feiras por conta do futebol.


Desde as suas primeiras chamadas e divulgações nas redes sociais, a Globo vem tratando a história como a “sua nova novela das 23h”, algo que não acontecia há anos, mesmo se tratando de uma reprise. Com isso, reacendeu o debate sobre a volta de produções inéditas para essa faixa possivelmente voltarem, será? Veremos…


O início de tudo

Foto: Divulgação/TV Globo

É curioso pensar que uma faixa de novelas nesse horário mais tarde já existiu. Isso porque, entre as décadas de 1960 e 1970, a Globo mantinha uma faixa considerada das 22h, tradicionalmente dedicadas às tramas mais fortes e/ou polêmicas para a época, que contava com uma dura censura da Ditadura Militar (1964 - 1985), sobretudo na segunda década citada.


Foi nela que, novelas como ‘O Bem Amado’ (1973), ‘O Rebu’ (1974), ‘Gabriela’ (1975) e ‘Saramandaia’ (1976) foram exibidas até a faixa ser extinguida após o final de ‘Sinal de Alerta’ (1978), em janeiro o ano seguinte.


Cabe lembrar que por outras questões estratégicas e de audiência, a Globo reviveu a faixa em outros dois momentos com as novelas ‘Eu Prometo’ (1983) e ‘Araponga’ (1990), no horário que viria a ser ocupada por séries, minisséries e outros programas que não eram de teledramaturgia até 2011.


Novos rumos

Foto: João Miguel Júnior/Globo

Foi nesse ano que a Globo decidiu trazer de volta as novelas para sua grade nos finais de noite de segunda à sexta-feira apostando em remakes de novelas que fizeram sucesso na mesma faixa, sobretudo na década de 1970, agora em um novo formato que nada mais se tratou do que uma novela.


De acordo com informações divulgadas pela imprensa na época e apuradas pela matéria, havia uma certa dúvida de como nomeá-las, mas no fim, acabou com o mesmo nome que conhecemos hoje. A princípio, a ideia da dramaturgia da Globo era testar novelas mais ágeis, com menor quantidade de capítulos e, claro, ousadas por conta do horário em que eram exibidas, além de serem exibidas no meio do ano, sem interferência de outros programas.


Se no passado a grande questão era a censura, há 12 anos a classificação indicativa ainda reinava na televisão brasileira e determinava o que iria ser exibido em cada horário. Assim, os autores e suas histórias acabariam não sofrendo qualquer problema e carregariam tintas em temas sensíveis e despudorados.


A primeira trama do horário foi o remake de ‘O Astro’ (1977), clássico de Janete Clair que foi adaptado por Alcides Nogueira, em 64 capítulos. O sucesso foi tanto que a novela chegou a vencer o Emmy Internacional de melhor novela de 2011, o que fez com que a Globo continuasse com o projeto de lançar uma novela das onze por ano.


Na sequência, vieram outras releituras: ‘Gabriela’ (2012), ‘Saramandaia’ (2013), ‘O Rebu’ (2014). Em 2015, a estratégia mudou e Walcyr Carrasco chegou com tudo em ‘Verdades Secretas’ – e com ela também mais um Emmy Internacional de melhor novela, além de ‘Liberdade, Liberdade’ (2016).


Mudança de nome e extinção

Foto: Mauricio Fidalgo/Globo

A partir de 2017, novas mudanças entraram em vigor. Sob a direção de dramaturgia de Silvio de Abreu, a Globo decidiu então alterar a nomenclatura das obras veiculadas às 23h de novela para as chamadas “superséries”, ainda que o formato não fosse alterado em nada na sua proposta e essência.


Foi assim que ‘Os Dias Eram Assim’ (2017) e ‘Onde Nascem Os Fortes’ (2018) foram exibidas em seus respectivos anos. Não há dúvidas que as produções foram bem, mesmo que talvez com uma menor repercussão entre o público e audiência.


Enquanto novos projetos não eram aprovados, foram exibidas no horário as séries ‘Assédio’ e ‘Se Eu Fechar os Olhos Agora’, em 2019. Com o cancelamento de ‘Jogo da Memória’, de Lícia Manzo; ‘O Selvagem da Ópera’, de Maria Adelaide Amaral e outros projetos de Euclydes Marinho e Maria Camargo, Walcyr Carrasco escreveu ‘Verdades Secretas 2’, que foi realocada para ser a primeira novela do streaming da Globo, e consequentemente, de todas as plataformas.


Assim como ‘Todas as Flores’, a segunda temporada da novela protagonizada por Camila Queiroz também ganhou exibição na Globo no ano passado, com uma edição especial para a TV aberta considerada mais “light”, gravada em paralelo com a versão exibida no Globoplay – sem qualquer menção a essa nomenclatura de novela das 23h.


Estratégia e acomodação

Foto: Gleik Suelbe/Globo

Com o avanço do Globoplay, é preciso reconhecer que a Globo diminuiu consideravelmente as suas produções exclusivas do seu sinal aberto. Isso se deu porque a televisão acompanha as tendências e movimentação do mercado e passou a investir mais nas produções originais para sua plataforma de streaming, movimentando ainda mais a concorrência.


Assim, a maioria de suas produções de sucesso ganharam exibição nas telinhas, como as séries ‘Rensga Hits’, ‘Segunda Chamada’, ‘Onde Está o Meu Coração’, ‘O Anjo de Hamburgo’, entre outras mais recentes que comumente tem o seu primeiro episódio numa espécie de espiadinha na Sessão Globoplay ou até mesmo na Tela Quente.


A estratégia de angariar mais assinantes é super válida uma vez que a emissora é uma empresa e busca cada vez mais não só o reconhecimento de qualidade de seus projetos, mas também um alto retorno financeiro sendo o segundo streaming mais consumido do Brasil. No entanto, é grande a saudade de boas e tradicionais produções inéditas por parte do público nessa faixa, sejam eles assinantes ou não da plataforma.


Assim, conclui-se que uma possível sobrevida desse horário com novelas e séries produzidas primeiramente para a TV aberta não deve acontecer mais, onde todo o foco seja o streaming que funciona também com um termômetro para a exibição na televisão, instigando ainda mais audiência para quando suas respectivas exibições acontecerem.


E que bom que existe essa reprise para que quem não viu ou prefira ainda os modos tradicionais de consumir novelas tenha a oportunidade de prestigiar os tantos trabalhos bons que têm sido produzidos no último ano. Fazem falta? Sim, mas entendemos as novas estratégias, ainda mais em tempos que a dramaturgia da Globo vive um momento de incertezas em suas três faixas de novelas devido à falta de planejamento com poucos autores e projetos cancelados – como a novela que Lícia Manzo escrevia para o horário das seis, infelizmente.


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