Alessandra Poggi estreou em grande estilo trazendo de volta a essência das novelas do horário entregando o que o público gosta
Na última sexta-feira (19), ‘Além da Ilusão’ encerrou sua passagem pelo horário das 18h muito bem. A novela de Alessandra Poggi com direção de Luís Henrique Rios conseguiu em meio a erros e acertos cativar o público a prestigiar uma obra inédita no horário, coisa que não era vista desde o fim de ‘Éramos Seis’ (2019), no início de 2020.
A novela já vinha sendo o assunto do momento muito antes de sua estreia, pois as informações de bastidores nos aguçava a curiosidade, principalmente envolta das inúmeras trocas de elenco durante a sua pré-produção no período de pandemia, mas isso não afetou em nada, parece até ser o grande acerto, pois juntamente do casal protagonista formado por Larissa Manoela – em sua primeira novela na Globo – e Rafael Vitti, somado a jovens e veteranos talentos mandaram muito bem e que tiveram o devido reconhecimento ao seus trabalhos.
Protagonistas e trama central
Composto com jovens e competentes talentos, ‘Além da Ilusão’ foi uma grata oportunidade de mostrar que Larissa Manoela, Rafael Vitti e Danilo Mesquita evoluíram muito bem desde que estrearam como ídolos teen nas telinhas.
Larissa Manoela, chegou com tudo e com responsabilidade ao interpretar duas personagens em momentos diferentes. No início da história deu vida a Elisa, uma personagem com nuances mais sutis que se apaixona pelo mágico Davi e enfrenta qualquer coisa pelo seu amor.
Na segunda fase interpretou Isadora, a irmã de Elisa, onde esteve mais segura com a personagem, mesmo que em muitos momentos seu desenvolvimento acompanhasse as exigências do roteiro. Foi de progressista a conservadora e ainda uma “revoltada” na pior e desnecessária fase da novela, que pode ser considerada a tal barriga.
Rafael Vitti não ficou muito atrás e entregou um trabalho mais maduro, algo mais trabalhado que deu conta do recado proposto, o que contribuiu para que a imagem do ator deixasse de ser um adolescente. Danilo Mesquita teve mais uma chance de mostrar seu talento, com um mini vilão que disputa o amor da mocinha e faz de tudo para prejudicar o seu rival.
Em resumo, foi uma boa proposta da autora em entregar um triângulo amoroso clássico, embora em alguns momentos muitos os embates entre os protagonistas masculinos podem ser considerados um tanto quanto infantis e repetitivos, foram necessários pelo conjunto da obra.
Grandes atuações
O elenco maduro deu um show de interpretação, principalmente no núcleo central da novela com Malu Galli, Antônio Calloni, Paloma Duarte e até Eriberto Leão, que surpreendeu com um personagem diferente do que costuma fazer, mostrando que um ator só precisa de novas oportunidades para mostrar o seu talento. Bom, vamos lá!
Malu Galli que já vinha colecionando bons personagens em novelas da última década, como por exemplo em ‘Cheias de Charme’ (2012), ‘Malhação – Viva a Diferença’ (2017) e ‘Amor de Mãe’ (2019/2021), dessa vez ganhou muito mais reconhecimento com sua Violetta, uma mulher à frente do seu tempo com um desenvolvimento muito bonito e o melhor de tudo, apaixonada.
Paloma Duarte também foi impecável em todas as suas cenas do início ao fim da novela, constatando que estava desperdiçada em tantos anos que passou na RecordTV. Seu retorno à Globo não poderia ser diferente. Na pele de Heloísa, entregou inúmeros momentos grandiosos com a sua atuação em cenas de sofrimento da personagem que foi uma mulher impedida de viver a sua maternidade e que carregava um grande segredo que a assombrava por muito tempo. Outra que se desenvolveu muito bem e ganhou a torcida do público na internet. Eriberto Leão também se mostrou diferente de tudo aquilo que a gente já viu, principalmente se comparado ao seu último papel de destaque em ‘O Outro Lado do Paraíso’ (2017), que era pavoroso. Leônidas foi responsável por trazer esse lado mais humanizado ao ator, que também interpretou um médico psiquiatra, por muitas vezes sendo responsável por conscientizar seus familiares sobre a condição de seu paciente. Haja paciência, não é mesmo? Mas foi bom.
E o Antônio Calloni, então? Esse sim foi responsável pela melhor atuação da novela. Matias começou a novela considerado um carrasco, com atitudes de um clássico homem dos anos 1930, foi muito bem na composição do personagem. Foi responsável pela primeira grande reviravolta no enredo (a morte de Elisa) e por inúmeras cenas que nos causaram raiva, mas que também nos emocionaram, principalmente após a descoberta dos seus problemas psiquiátricos que o ator entregou tudo!
Sua atuação foi digna de muitos elogios nas redes sociais, ainda mais se considerarmos a reta final da novela que foi envolta de grandes reviravoltas que surpreenderam o público. Vai ficar para a história, com certeza.
E não podemos esquecer de citar as participações especiais de Lima Duarte, Ângela Vieira, Regiane Alves, Arlete Salles, Marisa Orth, Glória Pires como Nise da Silveira e Gaby Amarantos, que estreou como atriz mandando muito bem.
Vilões que mandaram bem
A dupla de vilões formada por Ursula (Bárbara Paz) e Joaquim (Danilo Mesquita) foi o grande destaque e isso nos fez lembrar de outra famosa dupla do horário, estou falando de Débora (Ana Lúcia Torre) e Cristina (Flávia Alessandra) da novela ‘Alma Gêmea’ (2005), onde a mãe perversa manipulava a filha em suas maldades. Aliás, ‘Além da Ilusão’ em alguns momentos a trama lembrou do clássico da Walcyr Carrasco ao abordar alguns temas mais pesados para a faixa.
Por muitas vezes torcemos para que os planos dos vilões dessem certo para movimentar a trama água com a açúcar dos mocinhos, mas quando isso dava errado era motivo de diversão para quem assistia, fato que acontecia muito nos primeiros meses da novela. Úrsula e Joaquim não eram tão inteligentes assim e acabam se atrapalhando na arquitetura e execução dos seus planos.
Quanto ao final dos dois personagens, considero coerente que Joaquim tenha assumido todos os seus atos após descobrir a verdade sobre o seu passado e tenha recebido uma nova chance para se tornar uma pessoa melhor.
Já o de sua falsa mãe, foi tão criticado por parecer tosco, mas para mim não foi nenhum grande problema. Apenas foi mais um final um tanto quanto tragicômico como outros no horário. No mais, ele pode ser considerado um clichê que surpreendeu ao público.
Núcleos de humor que agradaram
Como toda novela das 18h, ‘Além da Ilusão’ contou com um núcleo cômico que realmente fez rir, sobretudo os núcleos da rádio e do cassino. O contraponto de atores veteranos como Paulo Betti, Alexandra Richter e Arlete Salles – que são craques no humor – com novos talentos: Carolina Dallarosa e Carolina Romano, dois nomes que prometem (se a Globo valorizar).
Ah, e a querida Mariah da Penha com o seu bordão “Eu falo mesmo, comigo não tem lorota!", esse que chegou até virar meme e sticker de WhatsApp. Memorável!
Amarração da trama com contextos históricos da época
Antes de terminar, destaco um dos pontos que mais me chamou atenção na novela. Diante todas as suas qualidades, observo a amarração que a autora conseguiu fazer com suas histórias aos períodos em que a novela era ambientada. A questão política esteve fortemente presente na trama principalmente por boa parte dela se passar na Era Vargas (1930 e 1945), onde foram discutidos temas como direitos trabalhistas, a Segunda Guerra Mundial e a ditadura de Getúlio Vargas.
A então primeira dama Darcy Vargas esteve presente na novela participando por diversos capítulos onde se relacionava com a protagonista, criando um paralelo entre a ficção e a realidade. Foi um grande acerto trazer esses elementos históricos para a novela a fim de também informar o público.
O feminismo representado através das principais personagens da história que demonstravam ser a frente do seu tempo mesmo diante aos costumes conservadores e patriarcais da época representada e o desquite também foram bem vistos. Além disso, o rádio foi tratado como um elemento de muita importância não só para a época, mas para a novela também, evidenciada através das radionovelas, programas de música e rádio jornais. Foi um lindo trabalho do time de pesquisa e produção que merece todos os créditos.
Considerações finais
‘Além da Ilusão’ encerra sua passagem pela TV de maneira grandiosa, considero. Com uma história envolvente, divertida e principalmente popular. Por muitos momentos foi um dos assuntos mais comentados no Twitter onde recebeu elogios e críticas na mesma medida, gerando essa grande interação entre o público, a autora e o elenco. Alessandra Poggi estreou como autora solo com a grande responsabilidade de reerguer o horário das 18h que vinha em uma crise de audiência e de qualidade – diga-se de passagem – causada pela problemática ‘Nos Tempos do Imperador’ (2021) e fez isso muito bem, mesmo com os seus muitos erros na condução da trama.
Texto, elenco e direção se mostraram muito bem alinhados a fim de entregar um novelão que com certeza será lembrado como uma das melhores da década de 2020, no horário. Espero que a autora tenha o seu descanso merecido pois sabemos que não foi fácil e que volte com tudo nos seus próximos projetos. Tem muito potencial!
Você pode até não concordar com os pontos abordados e analisados neste texto, mas há de reconhecer que é uma boa novela.