No dia 12 de outubro de 1970, nascia Cláudia Abreu, uma das grandes atrizes brasileiras. Consagrada não somente na atuação, mas também como produtora e roteirista, Cacau nos mostrou, desde sua estreia, um jeito único de atuar, que a tornou muito querida pelo público. Seus trabalhos na TV, teatro e cinema lhe renderam diversos prêmios, incluindo o Troféu APCA, Brazilian International Press Awards e Los Angeles Brazilian Film Festival.
Afastada da TV há alguns anos para se dedicar à sua família (sua última novela foi A Lei do Amor, em 2016; seu próximo trabalho é a série sobrenatural Desalma, disponível no Globoplay a partir do dia 22 deste mês), Cláudia costuma interpretar papéis que parecem terem sido escritos exclusivamente a ela, sempre entregando atuações cativantes e inesquecíveis. Neste texto, relembramos seus principais papéis na TV!
Clara Ribeiro – Barriga de Aluguel (1990)
Com apenas 20 anos e em sua quinta novela, Cláudia encarava sua primeira protagonista: a corajosa e impetuosa Clara, em Barriga de Aluguel, típica heroína imperfeita das novelas de Glória Perez, retomando sua parceria com o diretor Wolf Maya – este, responsável pelo primeiro papel de Cláudia na TV, na novela Hipertensão, de 1986.
Explorando temas até então inéditos na TV, a novela consolidou a carreira de Cláudia, que vivia uma jovem pobre contratada para ser mãe de aluguel para o filho do rico casal Ana (Cassia Kis) e Zeca (Victor Fasano).
Ela vê na proposta uma chance de melhorar de vida, encarando a ideia como um negócio e escondendo essa decisão de sua família e amigos. Quando seu segredo é revelado, sua vida vira de ponta cabeça: ela é expulsa de casa, se envolve num triângulo amoroso com o casal que a contratou e acaba se apegando à criança que está gerando, mesmo que ela não tenha seu sangue.
Ana e Clara passam a disputar na justiça a maternidade do bebê Carlinhos, dividindo o público, especialmente sensível aos dramas de Clara, tamanha a empatia que a atuação de Cláudia despertou no público. Ao final, as duas mães dão uma trégua à disputa e, por amor ao menino, decidem cuidar juntas dele.
Heloísa Andrade Brito – Anos Rebeldes (1992)
Jovem rica e mimada, pertencente à classe alta do Rio de Janeiro nos anos de Ditadura Militar, Heloísa rompe com uma vida fútil e os padrões tradicionais de sua família (seus pais, Fábio e Natália, eram vividos pelos saudosos José Wilker e Betty Lago), e parte para a luta armada contra o Golpe Militar de 1964, contrariando os ideais de seu pai, um dos financiadores do mesmo.
Esta minissérie foi sua primeira parceria com Gilberto Braga, com quem ela trabalharia muitas outras vezes. Cláudia protagonizou cenas que ela considera algumas das mais difíceis de sua carreira, que incluem os momentos em que Heloísa mostra as marcas das torturas que recebeu, e a cena de sua morte, onde um policial atira contra ela por desconfiar que ela estava armada quando, na verdade, a personagem estava apenas pegando seu documento dentro da bolsa.
A atuação de Cláudia marcou a memória do público, e lhe rendeu o Prêmio APCA na categoria Melhor Atriz.
Laura Prudente da Costa – Celebridade (2003)
Mais uma vez, Gilberto Braga daria a Cláudia um papel complexo e bem desenvolvido, inspirado no filme A Malvada (1950), que se tornaria seu maior e mais popular trabalho na TV. Moça pobre, deslumbrada, que sonhava com a fama e com a vingança, Laura se aproximava de Maria Clara Diniz (Malu Mader), conquistando sua confiança até se tornar seu braço-direito. Manipulando tudo e todos ao seu redor, Laura toma posse da carreira e dos bens de Maria Clara, que ela considera responsável pela desgraça de sua falecida mãe.
Uma das grandes vilãs da teledramaturgia, Cláudia entregou uma atuação deliciosa como a “cachorra”, auxiliada pelo texto afiado de Gilberto, recheado de ironia e deboche, conquistando a simpatia e a torcida do público – condizente com a música-tema da personagem, Sympathy For The Devil, do Rolling Stones.
Cacau teve ótimos momentos com seus parceiros de cena Márcio Garcia e Fábio Assunção, mas a grande cena da personagem, sem dúvida, foi a inesquecível surra que Laura leva de Maria Clara no banheiro do Espaço Fama.
Vitória Rocha Assumpção – Belíssima (2005)
Depois de Celebridade, Cláudia planejava se afastar da TV para ter mais um filho. Adiou seus planos ao ser convencida, pelo autor Silvio de Abreu a interpretar um papel totalmente oposto ao anterior, criado especialmente para ela: Vitória, mulher forte e sensível, uma ex-moradora de rua, com um passado cheio de dores e tristezas, incluindo um assassinato cometido em legítima defesa, mas que vivia um presente cheio de felicidade com o marido Pedro (Henri Castelli) e a filha Sabina (Marina Ruy Barbosa), com quem morava na ilha de Santorini, na Grécia. O casamento de Pedro e Vitória desagrada a avó do rapaz, a controladora e preconceituosa Bia Falcão (Fernanda Montenegro), que faz de tudo para prejudicá-la.
Após a misteriosa morte de Pedro, pela qual Vitória é incriminada, ela retorna ao Brasil e passa por um verdadeiro calvário nas mãos de Bia, chegando a quase morrer na cadeia. Numa atuação de grande carga dramática, Cláudia teve cenas de grandes embates com Fernanda Montenegro, atuando em pé de igualdade com a grande dama da TV brasileira.
Ao final, revela-se o grande mistério da novela: Vitória é filha de Bia, abandonada e desprezada por ela ao nascer. A cena final das personagens, um acerto de contas cheio de mágoas, é inesquecível.
Chayenne – Cheias de Charme (2012)
Após 4 anos longe das telinhas, Cláudia voltava com um personagem surpreendente, diferente de tudo que ela já fez: a divertida vilã Chayenne, uma cantora de tecno-brega, milionária e exagerada, conhecida por ser muito carinhosa com seu público. Mas quem convivia com ela de perto, sabia que a “brabuleta” não era flor que se cheirava.
Suas ex-empregadas Penha (Taís Araújo) e Rosário (Leandra Leal), destratadas por ela, se libertam da vida de empregada doméstica e formam, juntamente de Cida (Isabelle Drummond), o grupo Empreguetes, ameaçando a soberania de Chayenne no mundo da música, fazendo com que ela se torne uma grande inimiga do trio e apronte todas para prejudicá-las.
Inicialmente escalada para outro personagem, Cacau se encantou por Chayenne e pediu aos autores Filipe Miguez e Izabel de Oliveira e a diretora Denise Saraceni para que pudesse interpretá-la. Essa decisão a consagrou com um de seus melhores personagens e, infelizmente, seu último com grande repercussão na TV.
Destaca-se a química em cena de Cacau com Ricardo Tozzi (o cantor sertanejo Fabian) e Titina Medeiros (sua “personal curica” Socorro). Dois anos depois, Cláudia repetiu a parceria com Filipe, Izabel e Denise em Geração Brasil, mas, desta vez, sem repetir o mesmo sucesso.
Pode ser que você não tenha visto sua personagem favorita nesta lista. Cláudia tem uma gama de outros papéis marcantes em sua carreira, entre elas a Princesa Juliette em Que Rei Sou Eu (1989), Alice em Pátria Minha (1994), Olívia em Força de Um Desejo (1999), ou a Pâmela Parker de Geração Brasil (2014).
Apesar de ser muito seletiva e passar anos fora da telinha entre um papel e outro (ela atuou em apenas três novelas durante toda a década de 90), Cacau sempre se destaca ao viver mulheres contestadoras e de personalidade forte, todas muito diferentes uma da outra. Quando a gente menos espera, ela vai voltar surpreendendo todo mundo mais uma vez!
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