Não é surpresa para ninguém que “A Viagem”, novela de Ivani Ribeiro, é um grande sucesso. Já foi sucesso em sua primeira versão, exibida em 1975 na extinta TV Tupi. Mas foi seu remake, produzido pela TV Globo em 1994, que se tornou um verdadeiro fenômeno, lembrado por muito carinho por uma legião de fãs até hoje. Isso se comprova em suas reprises: foram duas no Vale a Pena Ver de Novo, em 1997 e 2006, e duas no canal VIVA: a primeira em 2014 e a segunda encerrada recentemente, em julho de 2021.
Ao contrário de outras novelas que saturam quando são reprisadas demais, “A Viagem” não sofreu desse mal. Mesmo que enfrentando certa resistência do público com o anúncio de uma nova reprise, a novela caiu mais uma vez no gosto do público, ainda que esse tivesse um olhar mais crítico à certos aspectos da novela.
É impossível não se envolver com o romance de Diná (Christiane Torloni em mais uma protagonista icônica) e Otávio (Antônio Fagundes), que começavam a novela como inimigos, uma vez que Otávio, advogado criminalista, foi um dos responsáveis pela condenação do revoltado Alexandre (Guilherme Fontes, inesquecível no papel), irmão mais novo dela. Preso por latrocínio, Alexandre se mata na prisão e seu espírito passa a infernizar a vida de todos que julga responsáveis por seu trágico destino, incluindo Otávio, seu cunhado Téo (Maurício Mattar) e seu próprio irmão, Raul (Miguel Falabella). No decorrer da novela, um grande amor nasce, aos poucos, entre Diná e Otávio.
Tão grande que ultrapassa as barreiras da vida: ligados desde vidas passadas, o amor deles resiste até à morte, quando eles se reencontram na vida eterna, ficando juntos, literalmente, para sempre.
Originalmente pensada para o horário das 18h por Ivani, sua colaboradora Solange Castro Alves e seu diretor Wolf Maya, “A Viagem” foi produzida a toque de caixa, em 20 dias, para suprir uma vaga aberta no horário das 19h, destoando bastante das antecessoras e sucessoras que foram e são exibidas até hoje nesta faixa pela TV Globo. Foi um drama humano, com temas pesados, mas também muito sensíveis. Falava sobre espiritualidade sem forçar a religião, e tinha a cara dos anos 90.
Deu destaque a atores jovens, em início de carreira, num núcleo que, hoje, é considerado dispensável e chato, e também deu papéis de grande destaque a atores veteranos: de um lado, Laura Cardoso e Yara Côrtes eram figuras indispensáveis na parte dramática da novela; do outro, no núcleo da vila, Nair Bello, Ary Fontoura e Lolita Rodrigues nos divertiam, trazendo o alívio cômico à novela, totalmente integrados à linha narrativa em geral. Deve-se dar destaque também à Lucinha Lins, irretocável com sua sensível Estela e suas fortes relações de afeto com a irmã Diná, a filha Bia (Fernanda Rodrigues) e seu amor, o sábio Dr. Alberto (Claudio Cavalcanti).
Claro que, como toda novela, teve seus erros, incluindo personagens que não acrescentavam nada de importante à história e algumas barrigas, períodos em que nada de relevante acontecia. Além de mostrar comportamentos e atitudes que hoje são muito questionadas pelo público, motivando o VIVA a exibir, ao final dos capítulos de suas reprises, uma mensagem dizendo que “esta obra reproduz comportamentos e costumes da época quem que foi produzida”.
Mas o fato inquestionável é que essa foi uma reprise muito bem-vinda, trazendo nostalgia e alento durante tempos tão sombrios que temos vivido no Brasil. Sua mensagem, de que a vida não termina com a morte, trouxe alento à muitas pessoas que perderam algum ente querido nestes meses de pandemia. Exibida pela quinta vez, “A Viagem” mais uma vez cumpriu o seu papel, retratando um acolhimento tão forte do espiritismo que toca até mesmo quem não acredita nele. Nos emocionou, nos divertiu e nos acolheu, falando justamente da viagem que fazemos na Terra e após a morte do corpo. Vale muito a pena acompanhar esta história, que também está disponível no catálogo do Globoplay!
Bônus: o meme da dona Cininha (Nair Bello)
Nair Bello deu vida a Cininha, a dona da pensão localizada na fictícia vila da novela “A Viagem” (1994). Alegre, divertida, está sempre de bem com a vida e desde o primeiro capítulo já chega causando, como na cena acima. Na sula última reprise pelo Canal VIVA, finalizada em julho, a cena virou meme nas redes sociais, onde, os GIFs criados eram usados para comentar a novela com a #AViagemNoVIVA e também para os mais diversos contextos. Foi um fenômeno!
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